-- Meu Imaculado -- Coração Triunfará: novembro 2008

domingo, 16 de novembro de 2008

A FORÇA E A TERNURA DO AMOR DO SALVADOR POR NÓS

Das alturas da visão de Deus, o amor de Cristo desce em nossas almas e, nesse amor de Jesus por nós, encontramos, unidas, características tão diferentes: a mais profunda ternura e a força mais heróica.
A terna misericórdia do Salvador para com as almas não se desmente em nenhum instante, apesar de todas as ingratidões, contradições e ódios que Ele encontrou em Seu caminho.
Quanto a nós, temos facilmente uma terna afeição a raras pessoas da família ou a um amigo: mas quase sempre essa ternura é inteiramente sensível, superficial; não chega até a alma daqueles que amamos. Rezamos muito por eles? — Além do mais, essa afeição é freqüentemente tão estreita quanto superficial: nós a reservamos para alguns íntimos; como ela é fraca, perderia sua relativa intensidade se se espalhasse. Nosso coração é pobre, avaro em sua afeição: os indiferentes ficam de fora, e com maior razão os que nos ofenderam, feriram; somos até duros com eles e, às vezes, impiedosos.
A ternura sobrenatural de Cristo pelas almas é profunda, porque visa primeiro a alma, desejando-lhes a vida eterna; e ao mesmo tempo ela é universal, imensa, se estendendo a todos.
Jesus é, como Ele afirma, o Pastor das almas; todas podem tornar-se ovelhas de seu rebanho. Ele as conhece todas, chama-as nominatim, cada um por seu nome [1], protege-as contra o inimigo, inquieta-se pelas ausentes, corre à procura delas e carrega-as em seus ombros.
Um dos maiores sinais de sua vinda é este: "Os pobres são evangelizados" [2]. Eles têm, como as crianças, um lugar especial em sua afeição. Ele não teme comprometer Sua dignidade ao admiti-los perto de si; expõe-lhes com bondade a doutrina da salvação e até os serve. É entre os pobres e os humildes que escolhe seus apóstolos; na Quinta-Feira Santa se humilha diante deles, lava e beija seus pés para fazê-los entender melhor o preceito do amor fraternal. Cor Jesu, deliciae Sanctorum omnium, miserere nobis.
O que diz Ele aos pecadores? — "Vinde a mim todos os que estão fatigados e vos achais carregados, e eu vos aliviarei" (Mt. 11, 28). Ele tem piedade da grande miséria para onde o pecado os conduziu; leva-os ao arrependimento sem julgá-los com severidade. Ele é o pai do pródigo, abraça o filho infeliz por sua falta; perdoa a mulher adúltera que os homens se apressavam a lapidar; recebe Madalena arrependida, abre-lhe imediatamente o mistério de Sua vida íntima; fala da vida eterna à samaritana apesar de sua conduta; promete de imediato o céu ao bom ladrão. Realmente se realizam n'Ele as palavras de Isaías: "Ele não quebrará a cana rachada, nem apagará a mecha que ainda fumega." [3]
Ele sem dúvida repreende com muita veemência os fariseus que se obstinam em seu orgulho; mas é porque quer preservar as almas, afastá-las de sua influência, e também quer dar aos fariseus uma última advertência, que ainda os salvaria se eles não se endurecessem em seu orgulho. Advertindo-os assim, Jesus ainda os ama; até lhes dá uma graça que torna para eles realmente possível o cumprimento do dever.
Esse amor de Cristo não perde sua ternura, estendendo-se a todas as almas; ele abraça todas as nações e todos os tempos. Nosso Senhor tem sem dúvida suas preferências por um São João, por Zaqueu, pelo bom ladrão, mas permanece aberto a todos. "Ele morreu por todos os homens", diz São Paulo (II Cor. V, 14-15). Muitos se afastaram d'Ele, mas Ele não repele ninguém. E quando nos afastamos, Ele intercede pelos ingratos como rezou por seus algozes. É o grau supremo da bondade e da doçura na humildade. Ele diz a Pedro que deve-se "perdoar setenta vezes sete vezes", isto é, sempre, e Ele é o primeiro a fazê-lo.
Ao mesmo tempo, esse amor de Jesus por nós é de uma força que faz de seu coração o maior de todos. Cor Jesu, rex et centrum omnium cordium, miserere nobis.
Essa força, essa generosidade de seu amor por nós se manifesta cada vez mais desde o presépio até a Cruz. "Ele me amou, diz São Paulo, até se entregar por mim" [4], e cada um de nós pode dizer o mesmo. Os incrédulos só querem ver no Cristo moribundo um grande homem esmagado por mediocridades ciumentas. Ele é infinitamente mais: é a vítima voluntária que se ofereceu para nos salvar. "Ninguém tem maior amor que aquele que dá a sua vida por seus amigos." (Jo XV, 13)
Almas generosas se oferecem, às vezes, como vítimas para obter a conversão de um pecador, ou abreviar os sofrimentos do purgatório de um ente muito querido. Jesus se ofereceu como vítima por milhares de almas, por todos sem exceção e por cada uma em particular; e nenhum adulto está privado do benefício da redenção a não ser por orgulho ou para satisfazer sua concupiscência. Jesus suportou a pena que cabia a cada um de nós. Ele sofreu o pecado na medida de Seu amor por Deus, a quem o pecado ofende, e na medida de seu amor por nossas almas, que o pecado destrói e faz morrer. Cor Jesu, attritum propter scelera nostra, miserere nobis: Coração de Jesus, contristado por nossos pecados, tende piedade de nós. O coração doloroso e imaculado de Maria esteve intimamente associado a essa heróica oblação e nos ajuda a penetrar seu ministério.
Ninguém nos amou e ninguém nos amará nunca como Cristo. Eis porque, quando os fiéis de Corinto estavam divididos, um dizendo: Eu sou de Paulo! e outro: E eu de Apollo! — E eu de Cefas! — E eu de Cristo! São Paulo lhes escreveu: "Foi Paulo quem foi crucificado por vós?" (I Cor 1, 13)
Jesus quis para si no Getsêmani o amargo cálice de expiação de todos os pecados, todas as imundices reunidas, para nos dar o cálice de Seu Precioso Sangue, que é elevado todos os dias sobre o altar. Esses dois cálices representam toda a história do mundo e das almas, são como os dois pratos da balança do bem e do mal, e é o bem que pesa mais; o Precioso Sangue pode apagar todos os crimes se imploramos o perdão.
Com sua vitória sobre o pecado obtida na Cruz, Jesus é a fonte da vida e da santidade, fonte de toda consolação, salvação dos que n'Ele esperam, esperança dos moribundos, delícia dos santos, como diz a ladainha do Sagrado Coração. Ele nos deixou enfim a Eucaristia para ficar conosco até o fim do mundo e se dar como alimento a cada um de nós em particular.
Ele diz a Seus amigos privilegiados seguidores de Seu exemplo: "O que deixa a chaga de Meu coração aberta é Meu amor. Quero provar às almas que Meu coração não se fecha. Ao contrário, Meu maior desejo é que as almas entrem por essa chaga de Meu coração, abismo de caridade e misericórdia. É só nesse coração de um Deus que elas encontrarão o remédio para abrandar seus sofrimentos e fortificar sua fraqueza. Que elas Me estendam a mão. Eu mesmo as conduzirei até lá."
Continuamos sendo egoístas, porque nosso amor é fraco demais, pobre demais, estreito demais, e miseravelmente se volta para nós próprios. O coração de Cristo dilatará os nossos, ensinando-nos a amar sobre todas as coisas a glória de Deus e a salvação das almas.
Por que nos deixamos levar pelo ciúme, pela inveja? Porque nosso amor não se eleva suficientemente até o Bem Supremo que todos nós podemos possuir juntos sem nos atrapalharmos uns aos outros.
Em vez de nos deixar levar pelo ciúme, agradeçamos antes ao Senhor por ter dado ao nosso próximo qualidades que não temos e alegremo-nos como a mão aproveita do que os olhos vêem.
Por que somos fracos? Porque não amamos o suficiente, porque nosso coração é frio; porque contamos somente com nossas forças cuja enfermidade é manifesta, e porque não contamos suficientemente com o Coração de Jesus, com Seu amor por nós.
O Coração do Salvador pode e quer nos dar essas santas energias, as da confiança e do amor que inspira a adoração, a ação de graças e a reparação, colocando acima de tudo a glória de Deus.
Cor Jesu, de cuius plenitudine omnes nos accepimus, miserere nobis. Vamos ao Pai, por Ele, com Ele e n'Ele.
Garrigou-Lagrange O.P
(PERMANÊNCIA nos. 214-215; trad. de "Le Sauveur et son Amour por nous", E. Cèdre, Paris, 1951, p. 222 ss.)

sábado, 15 de novembro de 2008

A Predestinação de Maria segundo Maria de Ágreda (IV)


Numa quarta etapa ficou estabelecido que a humanidade do Verbo receberia todas as graças e que a santidade, a sabedoria, a beatitude e a glória divina afluiriam em sua alma tanto quanto esta fosse capaz de recebê-las. A este decreto alia-se, em segundo lugar, por uma conseqüência necessária, a predestinação da Mãe do Verbo encarnado. Ela foi concebida no pensamento divino como a primeira de todas as criaturas, e, imediatamente, derramou-se sobre ela o rio da Divindade e de Seus atributos, tanto quanto requeria a sua dignidade de Mãe e tanto quanto ela fosse capaz de recebê-las.

Bem-aventurada Maria de Ágreda, A Cidade Mística ou Vida Divina da Santíssima Virgem Maria (Primeira Parte, capítulo 1)

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Erros e acertos


... a experiência dos erros, ela é tão importante quanto a experiência dos acertos.Porque vistos de um jeito certo, os erros, eles nos preparam para nossas vitórias e conquistas futuras, porque não há aprendizado na vida que não passe pela experiência dos erros... os erros não precisam ser fontes de castigos. Erros podem ser fontes de virtudes... o erro tem que estar a serviço do aprendizado, ele não tem que ser fonte de culpas, de vergonhas, nenhum ser humano pode ser verdadeiramente grande, sem que seja capaz de reconhecer os erros que cometeu na vida.Uma coisa é a gente se arrepender do que fez, outra coisa é a gente se sentir culpado.Culpas nos paralisam, arrependimentos não, eles nos lançam pra frente e nos ajudam a corrigir os erros cometidos... Deus nos pemite os erros pra que a gente aprenda a fazer do jeito certo. Você tem errado muito? Não importa, aceite de Deus esta nova página de vida, que tem o nome de 'hoje'... Quando os erros são demais, vire a página.

A predestinação de Maria segundo Maria de Ágreda (III)




Ficou decidido, inicialmente, que o Verbo Divino se uniria a uma alma e a um corpo; em seguida, que outros seres seriam feitos à sua imagem e que comporiam a humanidade. Desde então, todos os homens se tornaram presentes no Espírito de Deus. A união hipostática da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, com a natureza humana foi, então, a primeira obra ad extra - exteriorizada -, porque, após o conhecimento e o amor em si mesmos, seria conveniente que Deus conhecesse e amasse o que é mais imediato à sua divindade, como vem a ser a união hipostática, ou seja, que o Verbo humanizado se tornasse o soberano de todas as criaturas e que, por meio d´Ele, sua criação alcançasse Aquele que as criou.

Bem-aventurada Maria de Ágreda, A Cidade Mística ou Vida Divina da Santíssima Virgem Maria (Primeira Parte, capítulo 1)



terça-feira, 11 de novembro de 2008

Maria é o novo mundo, preparado para receber o novo Adão (II)




Maria é uma terra que não foi amaldiçoada como a primeira, aquela terra, fecunda em espinhos e cardos. Sobre ela, ao contrário, desceu a bênção do Senhor e seu fruto é bendito, como cita o divino oráculo. Agora, de posse da bem-aventurada imortalidade, A Santa Virgem ergue para Deus - para a salvação do mundo - as suas mãos, estas que embalaram o próprio Deus... Branca e pura pomba, erguida em seu vôo até o mais alto dos céus, ela não cessa de proteger nosso plano inferior. Ela nos deixou, fisicamente, mas está conosco em espírito; no Céu, a Virgem Santa coloca os demônios em fuga, tendo-se tornado nossa mediadora junto ao Pai. Outrora, a morte, introduzida no mundo por meio de Eva, estreitou-a sob o seu penoso império; hoje, lançando-se sobre a bem-aventurada filha de u´a mãe cheia de culpa, a morte foi expulsa; e sua derrota surgiu de onde, dantes, surgira o seu poder... Ó Virgem, eu vos vejo adormecida e não morta: vós fostes assunta, da Terra ao Céu e, não obstante, não cessais de proteger o gênero humano... Mãe, permanecestes virgem, porque "Ele era Deus, aquele a quem vós destes à luz". Assim atua, igualmente, vossa "morte viva", tão diferente da nossa: somente vós - o que é mais do que justo - tendes o corpo e a alma íntegros, puros, incorruptos.


De São Teodoro Studita Os mais belos textos sobre a Virgem Maria Apresentados por Padre Pie Régamey (1946)

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Maria é o novo mundo preparado para receber o novo Adão (I)



Antes de formar o primeiro homem, Deus tinha-lhe preparado o magnífico palácio da criação. Colocado no Paraíso, o homem se deixou expulsar por causa da sua desobediência, e tornou-se, com todos os seus descendentes, presa da corrupção. Mas, Aquele que é rico em misericórdia, teve piedade da obra de Suas próprias Mãos, e decidiu criar um novo céu, uma nova terra, um novo mar para servir de morada ao Incompreensível, desejoso de reformar o gênero humano. O que é este mundo novo, esta nova criação? A bem-aventurada Virgem Maria é o céu que mostra o sol da justiça, a terra que produz o rio da vida, o mar que traz a pérola espiritual... Como este mundo é magnífico! Como esta geração é admirável, com a sua bela vegetação de virtudes, e suas flores odoríficas da virgindade!... O que há de mais puro, de mais irrepreensível que a Virgem Mãe? Deus, luz soberana e imaculada, nela encontrou tantos encantos que se uniu, substancialmente, a ela, por meio da descida do Espírito Santo. Maria é a terra sobre a qual o espinho do pecado não conseguiu sequer florescer. Ao contrário, ela produziu o rebento, por meio do qual, o pecado foi completamente extirpado.

De São Teodoro Studita Os mais belos textos sobre a Virgem Maria Apresentados por Padre Pie Régamey (1946)

Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é convosco. Bendita sois Vós entre as mulheres, bendito é o fruto de Vosso ventre, Jesus. Santa Maria, Mãe de Deus, rogai por nós, pecadores, agora e na hora de nossa morte.Amém.

sábado, 8 de novembro de 2008

Os Anjos


Ao se comunicarem diretamente com os nossos corações, os Anjos nos levam a fazer contato com a capacidade que temos de estar eternizados no presente de cada momento. Quando o passado ou o futuro nos desviam a atenção com pensamentos e lembranças que não são mais necessários, eis um momento propício para invocar o Reino Angélico. Os Anjos nos levam a perceber que, qualquer que seja a situação em que nos encontremos, ela só poderá ser vivida com os momentos presentes em nossas vidas. Os Anjos estão sempre prontos para nos ajudar

Aprendendo a Perdoar



Perdoar alivia, diminui o sofrimento e melhora a qualidade de vida.

Perdoar é caminhar através da dor. É aprender a conviver com o imperfeito e aceitar o outro como ele é: um ser humano e não divino, alguém que pode pisar na bola. Pode não cumprir o que se espera dele. Para perdoar é fundamental enxergar o outro como um todo. É preciso separar o erro que foi cometido daquilo que é maior naquela pessoa. Ele cometeu um erro, nao é o erro.
A capacidade de perdoar nao é um talento nato, é uma coisa que você desenvolve ao longo da vida. Quanto mais madura a pessoa é, mais capacidade ela tem de perdoar. As pessoas amadurecidas toleram mais, entendem mais o que é um relacionamento, o que pode esperar da outra pessoa. Quem nunca perdoa com certeza está sofrendo. Deve ter uma série de situações do passado que não conseguiu resolver. Com o tempo, foi ficando dura, inflexível. É preciso se exercitar para manter a capacidade de perdoar.
O perdão é importante para o bem-estar mental, sim. O Perdão tem a ver com qualidade de vida, com estabilidade emocional. Tem gente que não perdoa e continua remoendo a situação por muito tempo, mesmo quando o outro já mudou de vida, ou nem está mais aqui. Essas pessoas colocam no outro a culpa por toda a sua infelicidade. Isso ocorre muito: a pessoa cria um algoz, um sequestrador, alguém que é a causa do seu sofrimento. Se conseguir perdoar sai do cativeiro.
Existem passos para chegar ao perdão. Um dos exercícios mais importantes é se colocar no lugar do outro. No caso de uma traição por exemplo, a mulher pode tentar se colocar no lugar do homem e ver o que aconteceu, pela perspectiva dele. Pode ser que tenha sido um deslize, um impulso, uma outra necessidade que le foi suprir. O que aconteceu pode ter a ver com a história anterior dele com outras relações amorosas, com desejos inconscientes, coisas que às vezes nem o outro entende. Outra coisa importante nesse exercício é perceber como o outro está te vendo. Com certeza você está se sentindo traída, mas é possível que ele também esteja. Entender isso pode ajudar no processo.
Às vezes a pessoa não perdoa porque, quando olha o outro, só enxerga dor. Esse é o problema. Se tudo que ela enxerga no outro é dor, é porque a dor é dela. A atitude do outro pode ter reavivado essa dor, mas o sentimento sempre esteve ali. Existem várias pessoasque puderam perdoar porque localizaram a origem daquela mágoa. Daí entenderam como essa dor chegou e se instalou com tanta força.
Não, não é necessário perdoar sempre. As religiões defendem isso. Mas existe também um compromisso com a vida. A autopreservação é o mais importante. Quem perdoa o tempo todo, sem parar, pode provocar um estado de humilhação prejudicial à sua auto-estima. Antes de mais nada, qualquer pessoa tem que se respeitar como ser humano. Existem coisas impordoáveis, e elas são diferentes para cada pessoa. É preciso respeitar esses limites.
O perdão pode ser só interno ou precisa ser colocado para fora. Existem situações em que é preciso externar o perdão. Se você não diz que perdoou, o outro pode continuar se sentindo culpado, e fica difícil retasbelecer um vínculo. Em outras ocasiões quando não existe chance de reconciliação, o perdão não precisa ser externado. Na hora que perdoa, sente um alívio que tem a ver com ela, não com o outro. É como se tomasse um banho. E aí pode tocar a sua vida de um jeito melhor.
Luiz Cuschnir

Batalha espiritual -

Batalha espiritual - Um Panorama do Livro de Juízes
Romeu Bornelli

Nosso relacionamento intimo com Ele nos dará sensibilidade espiritual
O livro de Juízes, no Velho Testamento, relata o período mais negro da história nacional de Israel. Segundo o registro de Atos 13.19-20, este período durou "cerca de 450 anos". Foi uma época de crises marcadas pela repetição da fórmula: APOSTASIA à ESCRAVIDÃO à SÚPLICA à LIBERTAÇÃO.O livro de Juízes se divide em 3 partes básicas com 6 episódios centrais. Existem ricas lições e princípios da vida espiritual, e especialmente do conflito espiritual, neste terrível e precioso livro. T.Austin Sparks afirmou certa vez que, após ler todo o livro de Juízes, sua vontade era "procurar tomar um banho rapidamente" por ser tão pesada a atmosfera espiritual do livro. Muito, hoje em dia, tem-se falado a respeito de batalha espiritual. Talvez, a maioria deste ensino seja distorcido e corra o risco de reduzir o tema do conflito espiritual a questões externas como: "mapeamento espiritual" das regiões celestiais, posturas corretas do corpo para orar eficientemente contra hostes demoníacas, chaves (palavras específicas) para amarrar demônios específicos, etc.. Um estudo do livro de Juízes, à luz do Novo Testamento, revelará que o conflito espiritual é essencialmente uma questão interior, do coração, e não exterior. Creio que precisamos de uma "chave" no Novo Testamento para abrirmos o livro de Juízes e começar a entendê-lo, e essa chave é Tiago 4:7 "Sujeitai-vos, portanto, a Deus; mas resisti ao diabo, e ele fugirá de vós." O contexto imediato desse verso (Tiago 4;1-10), fala dos prazeres da carne e das amizades do mundo, versus o ciúme com que Deus, o Espírito Santo, anseia por nós. Isto, enquadra o conflito espiritual no coração, um conflito pela posse do coração, não um conflito externo (Efésios 6:10-20 a armadura do cristão, também o enfoca assim). Compare Tiago 4:7 e Juízes 2:12 e 14 : "deixaram ao Senhor" e "não mais puderam resistir a eles"(aos inimigos)
Vejamos alguns princípios espirituais extraídos dos capítulos 1, 2 e 3 do livro de Juízes.
1º princípio : UMA RAIZ HOSTIL PRESERVADA IMPLICARÁ EM UMA FORTALEZA HOSTIL REEDIFICADA. Veja Juízes 1.21-26: A casa de José, agiu contra a ordenança de destruir totalmente os inimigos dada em Deuteronômio capítulo 7 versículo 2, não tratou radicalmente com o inimigo, mas usou de misericórdia para com ele e o resultado então, foi que ele apenas mudou de lugar! Isso é verdadeiro em nossas vidas e conflitos espirituais contra a carne, as cobiças e paixões, o amor ao mundo, as amizades do mundo. O evangelho tem caráter radical: o machado está posto à raiz das árvores! Se não formos sérios em obedecer a Palavra de Deus nas questões práticas da vida do coração, nossos inimigos interiores apenas "mudarão de lugar", mas não serão mortificados. A rebelião (não obedecer a palavra que Deus tem falado a nós particularmente em nossa história com Ele) é a fonte de todo pecado e pode ter então diversas expressões em diferentes áreas da vida. Tratemos a rebelião à palavra de Deus em nossos corações, para que o "desaparecimento" de um inimigo em uma área da vida interior não nos engane, senão ele aparecerá em outra área, de outra forma (observe que o inimigo preservado pela casa de José mudou-se, e deu o mesmo nome, "Luz", à cidade ímpia edificada).
2º princípio: A CARNE NÃO PODE SER REEDUCADA ESPIRITUALMENTE TEM QUE SER MORTIFICADA. Veja Juízes 1.27-36: Neste trecho, aparece 6 vezes a expressão: "não expulsou" e 4 vezes: "foram sujeitos a trabalhos forçados". Ao invés de destruir os inimigos, Israel tentou reaproveitá-los para o seu serviço. Quanto de carne não julgada tem hoje sido usada para os serviços de Deus e do seu povo! Isto é verdadeiro em muitas áreas de serviço cristão como: a) Pregação e ensino - Um homem de Deus chamado Robert Murray Maccheyne disse certa vez: "Um homem não pode ser fiel e fervoroso servo de Cristo enquanto não desistir inteiramente de atrair os ouvintes a si mesmo e não a Cristo, enquanto não estiver pregando somente por amor a Cristo". Até mesmo quando falamos da cruz, corremos o risco de não termos as "marcas da cruz" em nosso homem interior. O homem é inclinado a crer em tudo o que é dito com certa dose de autoconfiança. Precisamos conhecer a realidade pessoal da decisão de Paulo "decidi nada saber entre vós, senão a Jesus Cristo, e este crucificado" (I Co 2:2). Eloqüência, cultura, preparo acadêmico, teologia, dinamismo, zelo pelas almas, não podem substituir as "marcas da cruz". b) Pastoreamento de almas - Por não termos a realidade mais penetrante da cruz em nossas almas, muitas vezes, intervimos em outras almas de forma errada, com espírito errado ou em tempo errado. Mudar o comportamento não é o enfoque (seria reeducar a carne), mas sim estreitar a relação com nosso Senhor. "A lei nunca aperfeiçoou coisa alguma" (Hb 7:19 ). Só a visão da glória de Cristo e de Sua graça, podem comprometer nossos corações, levando-os ao Seu altar. c) Adoração e Louvor - Todos os nossos talentos naturais têm que ser "julgados" pela cruz e expostos diante de Deus com todas as suas motivações e inclinações. Nada pode ser "aproveitado" sem o profundo juízo do Senhor, pois "os que estão na carne não podem agradar a Deus" (Rm 8:8). Nós podemos "amar o sacrifício" (o culto, o louvor, a adoração) e por isso sacrificarmos ao Senhor, mas isto não é aceito por Ele. Veja Oséias 8.13: "Amam o sacrifício, por isso sacrificam, pois gostam de carne e a comem, mas o senhor não os aceita". Se não passarmos pela cruz, o motivo e centralidade de nosso reunir e adorar juntos, será espúrio e reprovado pelo Senhor. d) Relacionamentos - O problema fundamental dos nossos relacionamentos humanos é a carne não julgada. O que conta nos relacionamentos é o quebrantamento e não o temperamento do homem. Todos os temperamentos são doentes e maculados pelo pecado. O homem "é carnal" (Gn 6:3). Também aqui, a carne não pode ser reeducada e "sujeita a serviços forçados", tem que ser mortificada pelo trabalho da cruz em nossas almas, através da Palavra viva e eficaz de Deus, falada aos nossos corações. Nos relacionamentos também vale o princípio espiritual: "Se não morrer, fica ele só". O quebrantamento, a carne julgada, o "eu" julgado, é o caminho do relacionamento.
3º princípio _ NO CONFLITO ESPIRITUAL SOMOS PRIMEIRO "PROVADOS PELO SENHOR", E DEPOIS, "APRENDEMOS A GUERRA". Veja Juízes 2.22 e 3.1-2 - Pense sobre isso: o que faz a diferença entre um cristão maduro e um imaturo? Entre a criança e o adulto na fé? Se admitirmos que a diferença não está na capacidade aumentada de não ser tentado, visto que, quanto mais maduros mais tentados, então onde estaria a diferença? O conflito espiritual leva-nos a conhecer a nós mesmos cada vez melhor. Somos provados, expostos e julgados pela operação da Palavra e do Espírito Santo, através das circunstâncias, pelo que Deus que sonda mente e coração (Sl 7.9). Neste processo, aprendemos a guerra. Aprendemos a verdade sobre Deus e a verdade sobre nós mesmos. A nossa capacidade para pecar não é alterada, mas sim nossa sensibilidade ao pecado, quando tentados. Mais uma vez, a diferença está não em algo que foi realizado em nós, em nossa natureza, mas em nossa relação com Cristo, nosso Salvador diário. Por isso, o crescimento espiritual genuíno nunca nos levará à soberba ou auto-suficiência, porque temos sido provados pelo Senhor, que vê a malignidade e depravação de nossa natureza.Por outro lado, a mesma palavra, o mesmo falar de Deus a nós, que nos prova e julga (morte), este mesmo falar edifica o caráter de Cristo em nós (ressurreição), e estes são os dois lados simultâneos do trabalho da cruz em nós.Primeiro, "Cristo formado em vós" (Gl 4.19), aprendemos progressivamente a viver "por meio de Outro" (Cristo), por meio da única Vida que agrada a Deus. Segundo, aprendemos a guerra. No conflito espiritual de nossos corações com a carne, as cobiças e paixões, os alvos e ambições terrenos, o amor ao mundo e o egocentrismo, aprendemos o real valor de todas as coisas, porque "aprendemos a Cristo" (Ef 4.20). Nossa relação com Ele, aprofundada, nos dará sensibilidade espiritual na vida do coração. E isto fará a diferença em nosso caminho à maturidade.
Que o Senhor use de misericórdia conosco!!!