COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
COLETA DA SOLIDARIEDADE DA CF-2015
Meus queridos Amigos e
Irmãos na Fé!
Com a celebração do Domingo de Ramos e da Paixão,
entramos na Semana Santa. O que é a Semana Santa? Por que ela é tão
importante na dinâmica do ano litúrgico?
Na Semana Santa celebramos a
História da Salvação de um Deus que
se humilhou e tornou-se homem para caminhar conosco, conhecer a nossa história
e nos apontar caminhos de vida. Mas não é só isso. No Getsêmani, Jesus
experimenta uma grande tristeza e sente a dor da angústia. Suspenso entre o céu
e a terra numa cruz, ele vive o doloroso abandono por parte do Pai. Enfrenta a
traição de Judas que, com um beijo, o entrega aos seus inimigos. Pedro não o
reconhece na presença de uma empregada. Os discípulos, seus amigos prediletos,
fogem e o deixam sozinho nas mãos dos soldados. A condenação forjada é tramada
para eliminar sua pessoa e os desígnios de Deus nele manifestos. Jesus, o Servo
Sofredor, despido de toda dignidade é reduzido a um farrapo humano. Ele
assume e faz seus todos os sofrimentos. Em sua morte e ressurreição, estão
presentes todos os sofrimentos humanos.
Façamos um minutinho de
silêncio, olhemos para dentro de nós, até as entranhas de nossa intimidade, de
nossa consciência. Depois olhemos ao nosso redor. Existem situações parecidas com as de Jesus em nossas relações humanas:
sociais, eclesiais, políticas, familiares? Por acaso não sou também eu
responsável por determinadas traições, exclusões, condenações injustas, que
gritam fortemente em algumas pessoas de minhas relações e, que me remetem a
situações de nudez, constrangimento, flagelo, dor, solidão e farrapo humano, a
exemplo do Mestre? Um bom exame de consciência, com toda a honestidade e
transparência talvez nos surpreenda... Mas
ainda há tempo de mudar!
A Semana Santa, tempo de
comunhão e solidariedade com e em Jesus, é um tempo santo e precioso para
entrarmos na História da Salvação e
da Libertação.
Somos convidados a tomar parte nesta história como agentes, como discípulos
missionários, não permitindo que o pecado, que levou Jesus à morte e ainda
destrói tantas vidas, invada o nosso ser e o nosso agir.
Nesta Semana,
meditamos o Evangelho de Jesus, contemplamos sua prática, acolhemos sua
proposta de doação e partilha, entramos em sua atitude de obediência ao Pai e de serviço
à humanidade.
A Palavra que ouvimos na celebração deste Domingo de Ramos e da Paixão
é muito forte. Ela nos confronta com nossa própria fé, com o modo como a
vivemos e testemunhamos. No Evangelho que segue a bênção dos ramos, vemos Jesus
a caminho de Jerusalém. Em que ponto deste caminho nós estamos? Estamos à
frente, atrás ou nos mantemos a beira da estrada? Exultamos convictos: “bendito
o que vem em nome do Senhor” ou o fazemos superficialmente, levados
pelo “embalo
da multidão”?
Não basta clamar “bendito o que vem em nome do Senhor”.
Urge agir e ser para que efetivamente haja espaço para ele se tornar presente
em nossa sociedade. Há várias formas de buscar que isto se realize, uma delas é
nos fazermos portadores da paz, que é fruto da justiça.
É assumir, apesar de todas as pedras no caminho, o chamado que nos é feito e, a
exemplo do servo sofredor, poder dizer: “não lhe resisti nem voltei atrás... sei que não sairei humilhado”.
Esta certeza nos é
reforçada pelo próprio Cristo que se esvaziou, se humilhou e depois foi por
Deus Pai exaltado. Participar da Eucaristia significa viver o mistério de Jesus
Cristo em sua totalidade. Neste Domingo de Ramos, porém, somos
chamados a viver mais intensamente sua paixão e morte e, com o hino da Campanha
da Fraternidade, reafirmar: “Quero uma
Igreja solidária, servidora e missionária, que anuncia e saiba ouvir. A lutar
por dignidade, por justiça e igualdade, por ‘EU VIM PARA SERVIR’ (Mc 10,45)”.
O evangelho da Paixão nos
conduz à contemplação. O sofrimento intenso de Jesus nos faz ver o quanto o
projeto de amor e paz que ele trouxe entra em choque com o contexto mundano. A
grande lição da Paixão é a paciência em meio às provações. Dedução muito fácil
de fazer, mas difícil de pôr em prática. Somos convidados à firmeza de Jesus em
meio às contrariedades.
É preciso fazer o mesmo
que fez Paulo, que não hesitou em recomendar a contemplação do próprio mistério
da kénosis para animar a vida
quotidiana dos cristãos. A humildade, à imagem do Cristo,
contribui para a qualidade de vida entre os membros da comunidade. “Tende
um mesmo amor, numa só alma, num só pensamento; nada façais por competição e
vanglória, mas com humildade, julgando os outros como superiores a si mesmo,
não visando ao próprio interesse, mas ao dos outros. Tende em vós o mesmo
sentimento de Cristo Jesus” (Fl 2,2-5).
Unidos com toda a Igreja
no Brasil, concluímos neste domingo a primeira etapa da Campanha da Fraternidade 2015,
FRATERNIDADE:
IGREJA E SOCIEDADE. “Eu vim para
Servir” (cf. Mc 10,45). Além da nossa conscientização sobre o problema, os
desafios e as perspectivas de uma sociedade enferma, injusta e corrupta em
nosso país, é o dia de realizarmos o gesto concreto, pois a CF se expressa
concretamente pela oferta de doações em dinheiro, na Coleta da Solidariedade.
Trata-se de um gesto concreto de fraternidade, partilha e solidariedade, feito
em âmbito nacional, em todas as comunidades cristãs, paróquias e dioceses. A Coleta
da Solidariedade é parte integrante da Campanha da Fraternidade. O
gesto fraterno da oferta tem um caráter de conversão quaresmal, condição para
que advenha um novo tempo marcado pelo amor e pela valorização da vida.
Possamos viver
intensamente, a começar das celebrações do Domingo de Ramos e da Paixão as
riquezas de toda a Semana Santa, especialmente do Tríduo Pascal! Levemos no envelope da Coleta da Solidariedade,
os frutos saborosos de nossos exercícios quaresmais de penitência, como o jejum
e a abstinência. Pensemos naqueles que têm menos do que nós e sejamos generosos
e honestos diante de nossa consciência, de Deus e da Comunidade!
Desejando-lhes abençoada Semana Santa, com ternura
e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Mc 11,1-10; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11 e Mc 15,1-39).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Março de 2015,
pp. 93-98 e Roteiros Homiléticos da Quaresma de 2015 da CNBB, pp. 60-67.