-- Meu Imaculado -- Coração Triunfará: 09/24/12

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

A CONCEPÇÃO DA VIDA HUMANA

Pe. Gilberto Kasper* O problema básico, que envolve a saúde, é a concepção que se tem da vida humana. Alguém pode desqualificar minhas considerações alegando que eu não entendo de medicina, ou seja, que eu não tenho diploma médico, enquanto eu posso desqualificá-lo, com a mesma razão, garantindo que ele não entende de vida humana. Isso equivale a dizer que seu diploma médico não o credencia a pronunciar-se sobre a natureza do ser humano. O Papa Paulo VI, retratando uma História de dois mil anos, assegurou a todo o mundo, num discurso à ONU, que a Igreja é mestra em humanidade. Tem algo importante e indispensável a dizer. Não se pode tratar de medicina sem uma concepção a respeito do homem. Mata-se muito mais o ser humano pela ideia, que pela violência com que se elimina sua vida terrestre. É sabido que, para se pronunciar acerca das qualidades gastronômicas de um bolo, não é preciso saber fazê-lo, como para degustar um bom vinho e se pronunciar a respeito dele, não se exige que se esteja em condições de fabricá-lo. Não me cabe, nem me arrisco, dar receitas para as diferentes doenças, - apesar de o provérbio garantir que de poeta e médico todos tem um pouco – mas não posso omitir-me, como pessoa humana e, principalmente, como ministro ordenado para um rebanho, cujos cuidados me foram confiados por Cristo, de me pronunciar sobre a situação geral da saúde e sobre as medidas que neste campo se tomam. O primeiro questionamento, que me incumbe fazer, é que a nossa farmacologia está baseada na concepção de que o homem não é mais que um ser natural, composto dos mesmos elementos, que constam nos fármacos. Impressionou-me um artigo que alguém, que se apresentou como médico, escreveu por ocasião da morte do Papa João Paulo II. Estranhava ele as homenagens a esse homem que, segundo afirmava, não era mais que um dos tantos chefes de religiões, existentes no mundo, e que ele não era mais que um composto de células, que se encontravam em todos os seres humanos de modo igual. Ele dizia, com palavras científicas, o que nós costumamos expressar dizendo que ele era apenas “carne e osso”. A visão antropológica cristã rebate essa concepção e garante duas vertentes básicas: vê o ser humano, ao mesmo tempo, a partir da natureza e a partir de Deus. É, em outras palavras, um ser natural aberto à transcendência. Pondo em discussão a categoria de natureza, retoma-se e aprofunda-se, hoje, a questão da bioética e da biotecnologia. O ser humano é e deve ser visto em sua dupla referência: como imagem e semelhança de Deus e, como ser vivo, ligado à matéria. No momento em que eliminarmos a dimensão da transcendência, a dimensão pessoal do ser humano e o próprio conceito de pessoa desaparecem. *pe.kasper@gmail.com

O SER HUMANO É NATURALMENTE RELIGIOSO

Pe. Gilberto Kasper pe.kasper@gmail.com Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista. De fato a história universal registra, independente da cultura e do lugar, que todos os povos tinham e tem religião. E, mais ainda, a religião está na base de sua vida. Quem a recalca, segundo pesquisa de Georg Siegmund, risca anormalidade. É o que já Santo Agostinho sentenciara: “Fizestes-nos para Vós, Senhor, e nosso coração está irrequieto enquanto não repousar em Vós”. Depois da implosão da União Soviética, cujo ateísmo militante proibia qualquer expressão religiosa, verificou-se o estranho fenômeno de jovens, que antes não tinham a menor ideia de religião, acorrerem aos mananciais do Evangelho. Reconhecem-se subitamente “agarrados por Deus”. São pessoas que cresceram num ambiente asséptico de todo germe da religião. De repente, porém, tiveram a certeza absoluta a existência de Deus, não como uma teoria, mas como Alguém que os atinge de perto. O ser humano tem indubitavelmente uma dimensão transcendente. Desde os tempos mais remotos tentou vincular-se com a divindade. Crê em Deus e o acolhe, no dizer de Santo Agostinho, como mais íntimo que ele mesmo. Reconhece-o como seu Supremo Bem, colocando-o na origem e no destino de sua vida. O cristianismo veio reforçar essa tendência mostrando-a como uma ação divina em nós. E, mais ainda, anuncia que o próprio Deus, na pessoa de seu filho, se fez homem. Veio habitar entre nós. Conhecemo-lo com o nome de Jesus Cristo. Essa encarnação de Deus elevou a dignidade humana ao mais alto grau, coroado com um Deus ainda mais excelso de filhos de Deus pelo batismo. Deus se solidarizou conosco. Jesus garante que tudo o que se fizer ao menor de seus irmãos é feito a Ele, o que equivale a dizer que dele receberá a recompensa. Falamos de uma ordem sobrenatural, que se situa no campo da graça. Todos nós participamos da plenitude da graça e da verdade de Cristo. Temos, pois, a certeza de que o ser humano se compõe de matéria – foi tirado do barro e, por isso, como se costuma dizer, é de carne e osso – e de espírito – recebeu o sopro divino. É um organismo vivo pensante. Sintetiza, em seu ser humano, os três degraus da vida: vegetativa, sensitiva e intelectiva, acrescidos da graça divina. Desenvolve por isso quatro atividades: uma orgânica, assimilando alimentos, outra psicológica, expressando sentimentos, a terceira espiritual, pelo conhecimento intelectivo e pela vontade livre, a quarta sobrenatural, pelas virtudes infusas da fé, da esperança e da caridade. Soa ainda hoje a exortação, que vem desde Tertuliano: “Cristão, reconhece tua dignidade!” Não menos incisivo é o imperativo socrático: “Homem, conhece-te a ti mesmo”. De fato, não basta existir. Não se consegue viver plenamente sem reconhecer o que nos torna humanos. O ser humano é, sim, matéria, mas matéria orgânica pensante e amante. Ele é capaz de Deus e de acolher o universo, conhecendo-o. Mas também se sente conhecido e amado e assumido por Deus e por muitos irmãos.

Sempre é tempo de milagres

Um fato, incontestável e maravilhoso, certificado por milhares de pessoas, todas podendo, ainda hoje confirmá-lo, foi a aparição da Virgem Santíssima, no dia 19 de setembro de 1846. Esta Mãe amorosa apareceu a duas crianças, sob a forma de uma bela Senhora. (...) Ela apareceu no alto de uma montanha da cadeia dos Alpes (...) para o bem da França (...) e do mundo inteiro. Sua intenção era a de advertir ao mundo que seu Divino Filho estava muito triste com os homens, principalmente pelos três pecados: a blasfêmia, a profanação dos domingos e festas e a transgressão das leis de abstinência. Fatos extraordinários confirmaram esta aparição; fatos recolhidos de documentos públicos ou atestados por pessoas cuja sinceridade e credibilidade excluem qualquer possibilidade de dúvida quanto ao assunto. Estes fatos são preciosos para consolidar a fé aos fiéis já ligados a Deus, firmes na sua religião, e para rebater os argumentos daqueles que, talvez por ignorância, querem colocar um limite ao poder e à misericórdia de Deus, dizendo que já não é tempo de milagres. São João Bosco (1815-1888) Aparição da Bem-aventurada Virgem na montanha de La salette, Turim, 1875.