COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Maravilhosos
são os vossos testemunhos,
Eis por que meu coração os observa.
Vossa palavra, ao revelar-se, me ilumina,
Ela dá sabedoria aos pequeninos” (cf. Sl 118).
Refletiremos a Palavra viva do Pai,
que é Jesus, do Décimo-Sétimo Domingo do Tempo Comum, que continua a nos falar
dos segredos do Reino dos Céus.
A Palavra de Deus deste domingo
leva-nos a “encontrar os verdadeiros
tesouros do Reino de Deus. Somos convidados a entrar na posse do tesouro
escondido, centrando nele o projeto de nossa vida e escolhendo entre coisas
novas e velhas.
Salomão pede sabedoria
para governar e julgar com justiça; Paulo nos diz que Deus convida a todos os
seres humanos a fazer parte de sua grande família e Jesus nos ensina que o seu
reino deve ser nossa principal preocupação.
A sabedoria é necessária
aos governantes para bem servirem o povo. É necessário investir com decisão no
reino dos céus. Deus, artesão perfeito, fez de nós uma obra-prima” (cf.
Liturgia Diária de Julho de 2014 da Paulus, 79-81).
Insisto em diferenciar o sabido do sábio! Sabido
é quem possui uma avalanche de informações, sem saber administrá-las. Tais
informações podem levar a pessoa ao “oco”, ao “nada”, ao “superficial” e
“aparente”. Já o sábio, mesmo sem diploma nenhum, é aquele que acolhe,
compreende e vive a sabedoria divina! É exatamente o que o Rei Salomão pede a Deus.
Como nosso mundo seria diferente, se deixássemos Deus, nosso Criador, respirar
nas entranhas de nossa intimidade. Se deixássemos os dons do Espírito Santo
agir em nossas escolhas. Muitas vezes tem-se a impressão de que a pessoa tem a
arrogante pretensão de querer ser deus sobre o Criador e até chega a
convencer-se de que consegue manipular e “barganhar” o Espírito Santo. Tais
pretensões, chamamos de “politicagem daqui e dali”, em instituições familiares,
comunitárias, sociais, políticas e nem por último eclesiais, o que naturalmente
é desastroso, quando não pecaminoso. Mas o que não é Deus cai. Um dia cai e cai
feio. O grande convite, portanto, é deixar Deus agir em nós, esvaziando-nos de
qualquer ganância prestigiosa e elogiosa. Gosto demais de rezar o terço com o
povo simples, que às quatro horas da madrugada, ligado na Rádio Aparecida,
retransmitida pela Rádio CMN 750-AM de Ribeirão Preto, reza por tantas
necessidades e por tantos que além de não rezarem, ainda os ridicularizam. Esse
povo, na minha modesta opinião, é verdadeiramente sábio e não simplesmente sabido.
Para Deus, os pobres e desprotegidos
são seu tesouro. Por este tesouro ele investiu o melhor de si, isto é, seu
próprio Filho que se fez pobre com os pobres. Aí está o tesouro da sabedoria de
Deus, o segredo de seu Reino, infinitamente mais valioso do que todos os
poderes e riquezas deste mundo.
Então, qual é o Reino de Deus hoje? Aquilo que queremos
ter em nosso poder, aquilo que com tanta insistência agarramos e procuramos
segurar? Nossas posses, privilégios de classe, status etc.? Ou não será antes a participação na comunhão fraterna,
superar o crescente abismo entre ricos e pobres e transformar as estruturas de
nossa sociedade, para que todos possam participar da construção do mundo e da
História que Deus nos confia?
A verdade é que cada pessoa, mais cedo ou mais tarde, em
algum dia, terá, obrigatoriamente, que se desfazer de tudo, até mesmo da vida.
É o dia em que vamos morrer. Naquela hora derradeira, faremos a experiência de
total pobreza: experiência de não sermos, de fato, donos de nada, nem mesmo da
vida. Suprema hora em que todo poder, orgulho, vaidade, apego necessariamente
caem por terra. Hora, portanto, da suprema e bem-aventurada chance de, no vazio
de nós mesmos, Deus ser tudo em nós.
Pouco tempo antes do Padre Léo da
Canção Nova falecer, encontrei-me com ele no aeroporto de Navegantes (SC). Ele
viajava de Brusque e eu de Blumenau para São Paulo. Tive o privilégio de viajar
ao lado dele e, o que me marcou profundamente foi a seguinte frase dele:
“Padre
Gilberto, antes de adoecer e chegar a este estágio de minha fase terminal da
doença, já aguardando o dia de ver Deus face a face, sempre tive muita dó dos
pobres. Hoje, fazendo a experiência da enfermidade que me consome tão
rapidamente, passo a ter dó dos ricos. Você já imaginou a hora em que tiverem
de deixar tudo para trás?”
Já
antes, quando num velório, eu me imaginava confinado naquele pedaço de madeira,
pensava como ele. Depois deste encontro com o Pe. Léo ficou ainda mais intensa
a reflexão: no dia em que meu nome ecoar na eternidade, não terei como não ir. E
irá comigo somente aquilo que fui e, nada do que possuí. O que tive, ficará
para trás.
Que meu tesouro seja de valores essenciais: amor
gratuito, verdade, justiça, liberdade e paz! O resto é apenas resto!...
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o
abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 1Rs 3,5.7-12; Sl
118(119); Rm 8,28-30 e Mt 13,44-52).