COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Meus queridos Amigos e
Irmãos na Fé!
“Contemplarei, justificado, a vossa face;
e serei saciado quando se manifestar a vossa glória” (Sl 16,15).
Neste Décimo-Quinto
Domingo do Tempo Comum, “celebramos
mais uma vez a páscoa de Cristo, a qual se manifesta nas comunidades que vivem
a Palavra de Deus e nos corações que
se deixam transformar por ela. Nosso coração quer ser terreno fértil para
acolher a mensagem de vida e liberdade semeada por Jesus.
Assim
como a terra fértil recebe a semente e a faz germinar e crescer, vamos acolher
a Palavra de Deus, que Jesus deseja
semear em nosso coração.
A
Palavra de Deus tem muita força. A
semente da palavra tem tudo para
crescer e frutificar, mas precisa ser acolhida num coração aberto e generoso.
Nós e a criação inteira ansiamos pela libertação de toda escravidão.
Jesus,
como semente lançada à terra, frutificou e faz-se pão para nosso alimento.
Participar da Eucaristia significa acolher a semente da palavra viva” (cf. Liturgia Diária de Julho de 2014 da
Paulus, pp. 44-47).
“Jesus saiu de casa e foi sentar-se às
margens do mar da Galileia”. Uma multidão se reuniu em torno dele. Como estavam
à beira do mar, Jesus entra numa barca para, de lá, falar àquele povo todo.
Fala em parábolas. Entre elas, conta a parábola do agricultor fazendo a
semeadura. Gosto de pensar que a madeira está sempre presente na vida
de Jesus: nasceu numa manjedoura de madeira
entre animais e foi adorado primeiro pelos pastores, depois pelos magos; trabalhou
com seu pai adotivo, marceneiro e, que lidava com madeira na infância; tomou um barco de madeira do qual fez sua Mesa da Palavra, proclamando,
anunciando, explicando a Palavra de Deus, comparando-a a
semente semeada na terra boa dos corações dóceis ao Seu convite de produzir
frutos saborosos de amor, verdade, justiça, liberdade e de paz. Finalmente,
Deus reservou um Madeiro – a Cruz, como trono que O glorificou.
O que será que Deus está
a nos dizer, ao insistir sobre a importância de sua Palavra?
Em primeiro lugar, é bom
lembrar que, para a linguagem bíblica, essa Palavra é muito mais que
um som vocálico, pois manifesta a própria essência de Deus: ele fala
libertando. De fato, a Palavra (em hebraico: dabbar)... é bem mais que a pronúncia de
sons; esse termo significa o que está por
trás, ou seja, o coração, a força, a essência de quem fala. A Palavra
de Deus, portanto, é a própria essência de Deus que age nos
acontecimentos, transformando tudo em libertação e vida. Ele é capaz de,
mediante sua Palavra, criar o mundo, pondo ordem no caos (cf.
Gn 1). Muito mais quando o povo vive numa situação
de morte, bem pior que a terra árida, sua Palavra fecundará novamente a vida
desse povo, resgatando-o da situação de não-vida em que se encontra.
Quando Jesus conta a
parábola do semeador, ele está falando de si mesmo. Ele é a própria Palavra
vida do Pai, agora encarnada (cf. Jo 1,14), ou seja, ele é o verdadeiro acontecimento divino de
salvação no meio de nós, a presença viva do mistério salvador do Pai. Por isso,
Jesus diz a seus discípulos: “Felizes
vós, porque vossos olhos vêem e vossos ouvidos ouvem. Muitos profetas e justos
desejaram ver e ouvir o que vedes e ouvis, e não viram nem ouviram” (Mt
13,16-17).
Acontece que a própria Palavra,
que é Jesus, nos leva pela parábola a constatar uma triste situação: diante
deste acontecimento de salvação que ele é, existem pessoas que ouvem e veem
exteriormente, mas não percebem interiormente o que este acontecimento
significa. São os de “coração insensível”, gente tão fechada, travada, cheia de
máscaras e couraças criadas pelos apegos e pelas preocupações deste mundo, que
ouve de má vontade e fecha seus olhos, para não ver nem ouvir, nem compreender
com o coração, perdendo a chance de se converter e ser curada pela Palavra
(cf. v. 15). A Palavra
não cria raízes em tais pessoas. E as causas de tudo isso, onde estão? Jesus
mesmo as expõe no evangelho deste domingo: é “o maligno” (isto é, as forças
contrárias a Jesus e ao Reino de Deus), a superficialidade, a desistência na
hora da dificuldade, as ‘preocupações do mundo e a ilusão da riqueza’. Tais causas,
ainda hoje são as mesmas: a estratégia das forças antievangélicas, consumismo,
idolatria da riqueza.
Graças a Deus, há,
entretanto, gente que ouve a Palavra e a compreende. São pessoas,
cujo corpo é um chão aberto, generoso, preparado... num coração acessível e
profundo ao mesmo tempo.
Pessoas simples que, por
serem assim, acolhem e assimilam facilmente e em profundidade a Palavra
(isto é, o acontecimento salvador chamado Jesus) e produzem abundantes frutos
de solidariedade, justiça e paz. Até que ponto somos tais pessoas?
Importa, pois,
prepararmos o chão dos corações para que possam receber a Palavra: combater os
fatores de ‘endurecimento’ (dominação ideológica, alienação, consumismo, culto
da riqueza e do prazer etc.). Em vez do fascínio dos sempre novos (e tão
rapidamente envelhecidos) objetos do desejo, a formação para a autenticidade e
simplicidade, a educação libertadora com vistas ao evangelho. Então a Palavra,
que desce como a chuva do céu, poderá penetrar no chão e fazer a semente
frutificar.
Vale a pena todo esse
trabalho de conversão e assimilação da Palavra que é Jesus, o Cristo,
ressuscitado, em nossos corpos. Vale a pena sermos assíduos nesse trabalho,
pois, como ouvimos na segunda leitura, ‘os
sofrimentos do tempo presente nem merecem ser comparados com a glória que deve
ser revelada em nós’. De fato, junto conosco toda a criação espera ser
libertada da escravidão e, assim, participar da liberdade e da glória dos
filhos de Deus. Com a graça de Deus, um dia vamos chegar lá.
Lançamos a semente da Palavra
de Amor de Deus! Somos convidados a examinar que tipo de terreno é o
nosso coração para acolher e deixar frutificar nas entranhas de nossa intimidade tamanho AMOR!
Desejando a todos muitas
bênçãos, com ternura e gratidão, nosso abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is
55,10-11; Sl 64(65); Rm 8,18-23 e Mt 13,1-23).