COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Se puder
escolher duas palavrinhas centrais que nos remetem à Palavra de Deus proclamada
neste Sexto Domingo do Tempo Comum, seria: Compaixão e Dignidade!
Trata-se de uma Compaixão Especial e de uma Dignidade Integral! Não
uma dó apenas, e nem uma esmolinha a quem se encontra em dificuldades, principalmente
portadores de doenças contagiosas, incuráveis, como a lepra! Tanto a Compaixão
como a Dignidade implicam em compromisso. Da dó passamos a
comprometer-nos com a pessoa necessitada e sofredora.
O Profeta Eliseu indica o
caminho a Naamã que o procura para curá-lo de sua lepra. O Profeta não é
milagreiro. Faz com que o enfermo faça sua parte; participe do processo de sua
própria cura. De acordo com a página do Segundo Livro dos Reis, basta que Naamã
se banhe sete vezes no Rio Jordão para adquirir a cura. Mas Naamã, ao invés,
esperava algo de mão-beijada. Um milagre mais espetaculoso do que espetacular.
Mas ouvindo seus servos, Naamã fez o que Eliseu lhe sugeriu e curou da lepra.
Com frequência, também
nós esperamos as coisas acontecerem ou corremos atrás de coisas espetaculosas.
O espetacular
é operado pelo próprio Criador, que deseja suas criaturas felizes e cheias de
saúde, realizando-se com a dignidade que lhes é conferida, por serem as
criaturas prediletas do próprio Deus. O grande espetáculo do milagre
Deus já operou; basta que nos demos conta disso e vivamos de acordo com a
Vontade de Deus para conosco, que não é outra, do que nossa própria felicidade
e realização plena. Ir ao Rio Jordão hoje, significa ir ao médico, confiar
nele, tomar os remédios e seguir suas orientações. Quem espera curas
milagreiras, sem participar do processo do restabelecimento da saúde, acaba
frustrado, porque Deus não é mágico e nós não somos suas petecas, porém suas
criaturas prediletas, convidadas a colaborar na administração das curas de
nossas enfermidades, sobretudo, da lepra do pecado!

“Jesus, cheio de compaixão, estendeu a mão,
tocou no leproso e disse:
‘Eu quero: fica curado!’” (cf. Mc 1,41).
O Evangelho
de São Marcos determina uma das principais atividades ministeriais da Missão de
Jesus: com compaixão, devolver a dignidade aos enfermos, sobretudo aos
excluídos da convivência social, por causa de suas doenças contagiosas, como no
caso da lepra. O processo da cura começa com a vontade da pessoa de querer
a saúde!
O querer a cura, implica em ter fé, confiança
e disponibilidade de pedir: “Se queres,
tens o poder de curar-me”. Ao perceber a fé de quem pede, Jesus
imediatamente age com compaixão, respondendo: “Eu quero: fica curado!”. Muitos de nós,
ao sentirmo-nos curados, damos por encerrado o processo. Não é bem assim. Jesus
pede que as formalidades preceituais sejam cumpridas. Mais do que fazer
promessas e até mesmo cumpri-las depois, Jesus espera engajamento na Comunidade
de Fé, na Comunidade Eclesial, no Compromisso e no Testemunho de ternura,
amor, compaixão e misericórdia para com os demais enfermos em nossas
relações. Implica, também, em zelarmos por uma melhor qualidade de vida. Sem
nossa efetiva participação, nada acontece. Somos os protagonistas de nossa
própria saúde ou de nossas enfermidades.
São Paulo, ao escrever sua Primeira Carta à Comunidade de Corinto nos
indica como melhor agir, para que também nossas Comunidades gozem de saúde. A
cura individual não combina com o cristianismo. Somos responsáveis pela saúde
da Comunidade à qual somos inseridos. “Fazer
tudo para a glória de Deus... Procurar agradar a todos em tudo, não buscando
apenas o que é vantajoso para nós mesmos, mas para todos...”. Lembro-me bem
dos três pecados paroquiais, que nosso saudoso Dom Arnaldo Ribeiro, sempre
elencava em suas Visitas Pastorais, e que precisam ser superados: saudosismo,
milindrismo e estrelismo. E a pior lepra a ser curada em nossas
atividades ministeriais, pastorais e missionárias é a inveja, ao lado de outras
como: carreirismo, competição entre agentes e clérigos, indiferença e
insensibilidade com o bem-estar da Comunidade, omissão, hipocrisia, fofocas
caluniosas, falta de transparência, para não dizer mentiras descabidas e a
aguda falta de humildade!

“Deus seu povo visita,
seu povo meu Deus visitou!” (cf. Lc 7,16).
O médico que cura as enfermidades de nossas
Comunidades é o próprio Cristo Jesus! Se não desviarmos
nosso olhar, nosso coração, nosso discurso, nossas atividades pastorais do Messias,
seremos saudáveis e protagonistas de Compaixão e de Dignidade num mundo
que está simplesmente doente! Com a Campanha da Fraternidade deste ano,
possamos colaborar para com a FRATERNIDADE: IGREJA E SOCIEDADE –
Eu vim para servir (cf.
Mc 10,45).
Sejam todos muito
abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço fiel.
Pe. Gilberto Kasper
(Ler 2 Rs 5,9-14; Sl 31(32); 1Cor 10,31-11,1 e Mc 1,40-45).
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Fevereiro de
2015, pp. 55-58 e Roteiros Homiléticos da CNBB de Fevereiro de 2015, pp.
95-100.