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"Quem quiser ser meu discipulo
renuncie a si mesmo,
tome a sua cruz e siga-me, diz o Senhor" (Mt 16,24)
A página do Livro da Sabedoria desta quinta-feira da XXXIIª Semana do Tempo comum, 7,22-8,1, dispensa qualquer comentário ou homilia, bem como o Evangelho de São Lucas 17,20-25, que nos afirmam ser "A sabedoria reflexo da luz eterna e espelho sem mancha da atividade de Deus. Ela nos ensina a entender a palavra de Jesus, afirmando que o o reino de Deus já se encontra entre nós" (Cfe. Liturgia Diária de Novembro da Paulus, p. 47). Gosto sempre de repetir para mim mesmo a diferença entre ser sábio e ser simplesmente sabido. Sábio é quem ouve, acolhe, tenta compreender e viver em suas relação a Palavra de Deus. Sabido é aquele que possui uma alavanhe de informações sem saber o que fazer com elas, ou as utiliza para tentar ser deus sobre a própria vida e sobre a vida dos outros.
Jesus é categórico: "... o reino de Deus está entre vós." E nós não nos damos conta disso. O Reino de Deus é um Reino de Justiça, de Amor gratuito, de Verdade, de Liberdade e de Paz. Onde esses valores essenciais e inerentes ao Reino de Deus deixam de respirar, as coisas não vão bem. Somos uma geração egoísta, mentirosa, avarenta, invejosa, arrogante, prepotente, correndo atrás de prestígio, de poder sem controlar nossa ganância de querer ter sempre mais e levar vantagem em cada situação. Somos uma geração tão cega, que não enxerga os "sinais dos tempos", a não ser quando vemos flagrados deputados passando a perna no painel de controle de presença: se um professor for à escola assinar o livro-ponto ou picar o cartão de entrada e voltar para sua casa sem nem ao menos passar pela sala de aula, é demitida por justa causa. E é justo. Mas quem paga os salários de nossos deputados? Quem são os patrões de nossos políticos e servidores públicos? Nós mesmos! Até quando os fortes serão fortes somente diante dos fracos, dos pobres, dos analfabetos, dos sem-consciência de cidadania... Então acontece um apagão e as pessoas tem uma noção de sua incapacidade, de sua impotência... A natureza reclama as surras que o homem vai lhe dando por conta do lucro imediato e injusto, com tempestades, enchentes, tornados, ciclones e as pessoas (muitas delas) ainda se perguntam que Deus é esse que permite tais catástrofes. Deus fez sua parte e tenta ensinar-nos a administrar bem a criação perfeita. Então lembramos do ditado popular que é bem oportuno para nossa reflexão: Deus perdoa sempre! O homem de vez enquando! A natureza jamais!
Nossa missão profética é anunciar um Deus Amor e Justo e denunciar as Injustiças que impedem a sobrevivência deste mesmo reino entre nós. Se o Reino de Deus é um Reino de Justiça, não há reino e nem Deus, onde a injustiça toma a última palavra. Só acreditarei em político honesto e preocupado com o bem comum, quando conseguir sobreviver com o salário mínimo que impõe sobre seu povo; quando um político se contentar em viver com Bolsa Família, seus filhos com Bolsa Escola; quando os políticos utilizarem transporte público ao invés de carros de luxo; quando conviverem alegremente numa casinha de três ou quatro cômodos; quando também eles conseguirem almoçar arroz com feijão, utilizando um único celular pré-pago e assim por diante. Quando fizerem a experiência de aguardar nas demoradas filas dos bancos, do INSS que leva dez anos para constatar a cegueira de uma pessoa, como foi o caso do meu irmão, que contribuiu com a Previdência desde os 15 anos de idade e ao completar 43 anos ficando cego, teve a aposentaria por invalidez negada ao longo de dez anos, recebendo hoje um salário mínimo que não paga os remédios que precisa para manter-se vivo. Acreditarei nos políticos que se utilizarem dos Hospitais mantidos (ou não) pelo SUS ao invés de correr para o Sírio Libanez e Albert Einstein, onde as diárias custam em torno de cinco mil reais. Quando minha avó sofreu derrame, supliquei um desconto, porque a diária pelo SUS na UTI custava setecentos reais. As Irmãs que cuidam do Hospital conseguiram deixar a diária por trezentos reais, porque afirmaram que a parte do SUS não se pagava há mais três anos. No segundo dia de UTI minha avó faleceu, do contrário estaríamos endividados. O prato mais barato no Restaurante do Aeroporto de Congonhas em São Paulo, sempre frequentando por nossos políticos em trânsito, custa cento e setenta reais. Essas diferenças e disparidades não podem ser sinônimos de Justiça!
Como seria bom se tivéssemos, TODOS, a começar de mim mesmo, a coragem que levou São Josafá, Bispo, ao martírio, justamente porque não era bem-aceito pelo povo de sua época na Ucrânia, entre 1580 e 1623 e não poupou os nobres, poderosos e políticos corruptos e injustos, que impediam a dignidade igual para todos! Celebrando sua memória hoje, renovemos nosso esforço pela dignidade de sermos cristãos. Se a cruz que nos colocam nos ombros pesar, abracêmo-la, como nos sugere Santa Terezinha do Menino Jesus.
"Eum tudo dai graças, pois esta é a vontade
de Deus para convosco, em Cristo, o Senhor" (1 Ts 5,18).
Desejando a todos um dia muito abençoado, com gratidão e ternura, nosso abraço,
Pe. Gilberto Kasper