COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Dia Mundial das Missões
Meus queridos Amigos e
Irmãos na Fé!
“Missão
para libertar”.
“Enviou-me
a proclamar a libertação”
A Palavra
de Deus do Vigésimo-Nono Domingo do Tempo Comum, Dia Mundial das Missões, nos desafia “a não separar a liturgia da vivência cotidiana. Com a frase-resposta ‘dai
a César o que é de César e a Deus o que é de Deus’, Jesus vence o desafio
lançado por seus opositores e nos ensina a dar glória a Deus por meio da vida
dedicada ao seu povo.
Como
cidadãos do reino conduzidos pela mão do Senhor, vamos acolher a palavra da
salvação. Ela vem a nós com a força do Espírito e nos ensina a dar a Deus o que
lhe pertence.
Ciro,
rei pagão, torna-se instrumento de salvação nas mãos de Deus. A autoridade é
responsável pelo bem-estar do povo, que tem a Deus como seu único Senhor. O
tripé de uma comunidade cristã é a fé, a caridade e a esperança.
Não
podemos separar a vida cotidiana da vida de fé. Na assembleia que partilha o pão
da vida, reconhecendo-nos todos filhos e filhas do mesmo Pai e cidadãos da
mesma pátria” (cf. Liturgia Diária de Outubro de 2014 da
Paulus, pp. 62-66).
Há quem use a palavra do Evangelho
de hoje para manter a religião longe da política. Essa maneira de pensar já é
uma opção política que serve aos interesses dos que têm poder e exploram o
povo.
Em tempo de tanta
corrupção, podemos reconhecer vários poderosos que se colocam como deuses. O
poder político coloca-se como valor absoluto. Pessoas, regimes ou estruturas
que impedem a humanidade de ser “imagem
de Deus” na liberdade e na justiça. Roubam de Deus o que pertence
unicamente a ele: o povo.
A política e a economia
devem ser instrumento para a realização da justiça, do direito da vida,
conforme a vontade de Deus. Quando o dinheiro domina a pessoa, fica perdida a
noção de dignidade, de direito, de justiça e de respeito. Muitas vezes, é uma
questão mal resolvida dentro de cada um de nós, na sociedade e na política.
Os cristãos que se
engajam na política não são fiéis a Deus na medida em que se comprometem com o
sistema que oprime. Quando forem capazes de renunciar à riqueza, serão fiéis a
Deus, a quem devem devolver o povo que lhe roubaram.
O imposto cobrado deve
ser revertido em benefício do bem comum e não desviado para algum “caixa
dois’. Jesus condena a transformação do povo em mercadoria que
enriquece dominadores e fortalece a dominação tanto interna como estrangeira.
Jesus chama de hipócritas
os grupos que o elogiam, mas sustentam a injustiça sobre o povo. Ele manda
devolver para Deus o que é de Deus – o povo libertado. O nome do amor
hoje é a política vivida como solidariedade.
A Deus não temos como
pagar, pois tudo a ele pertence. O tributo que podemos pagar a Deus é a entrega
de nossa vida, compromisso com o projeto que Jesus nos ensinou, no amor
fraterno e na justiça. Ligamos fé, política e economia, conseguindo romper com
a dominação do dinheiro, do consumismo, da adoração à moeda estrangeira, do
poder e do sucesso. Na Igreja, na comunidade, como nos organizamos para ficar
livres da ganância, do poder e do dinheiro?
A moeda deve ser
restituída a César, porque nela está impressa a imagem do seu senhor: o
imperador. Há uma criatura sobre a qual está impressa a imagem de Deus. Esta é
sua e somente sua. Ninguém pode apropriar-se dela indevidamente.
As palavras de Jesus nos
alertam a ficarmos atentos e prontos a gritar quando as pessoas são
injustiçadas, exploradas e massacradas em seus direitos.
Somos tentados
frequentemente a “comprar deus” com dinheiro
ou falsas promessas e dar a César o que é de Deus. O que é de Deus? O que é de
César? Não podemos cair na armadilha e trair os princípios e valores do Reino
de Deus. Pedimos a graça de estar ao dispor de Deus e servi-lo de todo coração.
A comunidade é o lugar,
por excelência, para servir a Deus, cantar as suas maravilhas e professar a
nossa fé nele. A fé nos leva a “devolver
a César o que é de César”, recusando todo tipo de dominação ou privilégios,
pois, o Deus em quem acreditamos quer vida e liberdade para todos.
O desenvolvimento, crescimento e valor de um
País, geralmente, é medido a partir da economia, enquanto deveria ser
reconhecido desenvolvido, civilizado a partir dos valores de seu Povo:
a riqueza de sua cultura, a sustentabilidade de seus bens naturais e a
sabedoria dos que nascem naquela determinada Nação. Lamentavelmente o dinheiro
apodera-se sempre da “última palavra”. Com dinheiro
resolve-se a vida e os problemas de uma pequena porção de um povo em detrimento
da grande maioria, que sobrevive com “migalhas”.
Se nossos políticos e
servidores públicos, que nem sempre servem o povo, mas apropriam-se
indevidamente do que é de todos, trabalhassem por salários
mais modestos, talvez a injustiça na política pudesse ser sanada. Não é o que
acontece. Além de salários demasiados altos, têm assessorias que recebem
vergonhosas ajudas de custo, além de barganhas, comissões e dinheiro sujo que
compra a honra de quem quiser sobreviver ao sistema corrupto que contemplamos
escancaradamente. Nossos impostos não são honestamente aplicados em favor do
bem comum. Quanta sujeira varrida debaixo dos tapetes de nossos Governos!
Subestimam nosso senso crítico e nós não exercitamos nossa cidadania e
direitos. Não valorizamos nem mesmo um centavo de troco, permitindo que de
centavo em centavo, alguns poucos enriqueçam com dinheiro ilícito. Somos
apáticos e conformados com o que nos é imposto, tornando-nos o País que paga os
mais altos impostos do mundo, sem que esses sejam aplicados em melhor qualidade
de vida dos cidadãos.
Os bancários fazem greve
enquanto os banqueiros se dão conta de que muitos dos grevistas são inúteis, já
que a vida do País continua. Sofre o povo simples. Basta inovar um pouco mais a
tecnologia eletrônica da transação bancária e a mão de obra humana torna-se
supérflua. Não seria mais inteligente os bancários combinarem uma greve
interna, sem prejuízo aos clientes de seus bancos? Durante um mês os
funcionários dos bancos deixariam de vender os produtos de seu banco, atendendo
tão somente os clientes, sem fechar as portas. Nosso dinheiro fica à mercê dos
bancos que enriquecem ainda mais, durante a greve.
Seria injusto, não fosse diabólico! Enquanto
grevistas gritam por justiça, políticos votam aumento dos próprios salários.
Daí que afirmo acreditar na honestidade da maioria dos políticos, desde que
trabalhem sem salário fixo; contentando-se apenas com o necessário para servir
seus eleitores!
Corruptos e desonestos não nascem nas
Câmaras, no Congresso Nacional, Senado e até mesmo na Suprema Corte. São (des)
educados no seio da própria família desde tenra idade. Quando os pais
pagam seus filhos para que obtenham bons resultados na escola; quando
recompensam os filhos por serem educados, comportadinhos e coniventes com as
falcatruas familiares formam homens desonestos, corruptos e sem escrúpulos.
Também
em nossas Comunidades, precisamos estar atentos para destinar com justiça o
dinheiro que nos chega, aplicando-o honestamente. Refiro-me ao dízimo, às
coletas hodiernas e extraordinárias e taxas cobradas nas secretarias de nossas
Paróquias e Celebrações. A Coleta para as Obras Missionários deste Dia Mundial das Missões deverá ser
enviada toda ela à Cúria, sem subtrair nenhum centavo, como parece
acontecer frequentemente. Não podemos utilizar o dinheiro das Coletas para
decorar nossos Templos. Vivemos com simplicidade, utilizando os recursos para
nossas despesas? Devemos sustentar nossas Comunidades com dignidade e partilhar
de nossa pobreza com os que têm menos do que nós. O que Jesus diria a cada um
de nós, vendo que algumas Comunidades sobrevivem com dificuldades agudas,
enquanto outras ostentam luxo chamado de bom gosto? É admissível que numa
Igreja que se diz ser de Jesus Cristo haja tamanha disparidade e desigualdade
entre irmãos no Sacerdócio? A tão falada “fraternidade
presbiteral” é concreta ou não passa de “balela”? Cada um de nós
é chamado a responder desde os porões da própria intimidade: somos coerentes
ou hipócritas entre o que pregamos e vivemos: na Família, na
Sociedade, na Igreja e na Política?
Neste ano, celebra-se também neste domingo o Dia
Nacional da Juventude, que geralmente é comemorado no quarto domingo de
Outubro (Ver maiores
informações nos Sites: www.arquidioceserp.org.br e
www.cnbb.org.br.
Desejando-lhes
muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,
Pe.
Gilberto Kasper
(Ler Is 45,1.4-6; Sl 95(96); 1Ts 1,1-5 e Mt 22,15-21).