"Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham"
sábado, 23 de fevereiro de 2013
HOMILIA PARA O SEGUNDO DOMINGO DA QUARESMA DE 2013
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Neste Segundo Domingo da Quaresma, somos convidados a subir a montanha com Jesus e três dos seus discípulos para contemplarmos o mistério da glória de sua transfiguração. Por instantes, a eles é revelado que Jesus glorificado é o salvador esperado e que transformará nossa condição humana em realidade glorificada. [...] Imagino que os discípulos deram uma espiadinha no céu. [...]
A visão da transfiguração de Cristo nos convida a ‘prestar ouvidos ao eleito Filho de Deus’, se quisermos ter forças no discernimento das ações que edificam o mundo segundo o projeto do Pai. A Palavra de Deus, neste dia, nos descreve a parábola ou nos desvela o grandioso plano salvador de Deus.
A contemplação do Senhor transfigurado ressalta que ‘a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria. A fé torna-nos fecundos, porque alarga o coração com a esperança e permite oferecer um testemunho que é capaz de gerar: de fato, abre o coração e a mente dos ouvintes para acolherem o convite do Senhor a aderir à sua Palavra a fim de se tornarem seus discípulos’ (Carta Apostólica Porta Fidei, n.7).
‘Neste domingo da transfiguração, Jesus nos convida a escutar o que ele tem para nos dizer e a contemplar seu rosto luminoso. Firmes e cheios de fé no Senhor, celebremos a sua páscoa, que se realiza nos grupos e pessoas dispostas a transformar para melhor a realidade de cada um e a vida do povo sofrido.
As leituras nos motivam a abrir o coração às promessas de Deus, que se preocupa e sempre quer fazer aliança conosco. Chamados a participar da glória do Senhor, escutemos o que hoje ele nos diz. [...] E o que Jesus, o Filho amado do Pai nos diz ao coração, à luz do ANO DA FÉ? Que nos amemos uns aos outros, e pronto. Isso parece simples, mas não é fácil. Amar o diferente, amar quem nos trai, amar quem nos difama e não nos perdoa, amar o inconveniente e o que nos faz sofrer... Mas é o que Jesus espera de cada um de nós. E à luz da Campanha da Fraternidade: FRATERNIDADE E JUVENTUDE, o que Jesus nos pede e diz? Que sejamos fiéis ao lema da mesma: Eis-me aqui, envia-me! (Is 6,8). Deixar-nos enviar implica num prolongado compromisso com nossa Juventude, que é convidada a ser bússola que oriente, através do testemunho, da coerência e do bom senso, todos ao Cristo transfigurado! [...]
Na aliança com Abrão, Deus promete descendência e terra. A transfiguração de Jesus é prenúncio da glória que a humanidade toda deseja. Estamos a caminho da transformação, mas para isso é necessário empenho e renúncia’ (cf. Liturgia Diária de Fevereiro de 2013 da Paulus, pp. 75-78).
Na caminhada da vida, por vezes, uma decisão importante, a realização de um acontecimento, é precedida por crises, trevas e expectativas. Jesus, como exímio Mestre, insistia que os discípulos deviam caprichar no seguimento e tomar a cruz de cada dia. Contudo, para eles, essa conversa da cruz e que ele tinha que sofrer para entrar na glória não fazia parte de seu imaginário e de sua compreensão. As palavras do Mestre sobre a cruz implodiram as esperanças messiânicas e a decepção foi geral.
A transfiguração se traduz na revelação de que o caminho da glória passa pela cruz. A glória efêmera de um atleta, que no alto do podium recebe a medalha de ouro, é precedida por renúncias e sofrimentos alimentados pelo sonho de ser vitorioso.
Envolvidos pela luz da glória, Jesus e os representantes da antiga aliança, Moisés e Elias conversam sobre o seu êxodo em Jerusalém. Enquanto isto, Pedro só tem olhos para a glória deslumbrante. Quer chegar à glória por um atalho que evite a cruz. [...] Conosco isto acontece frequentemente. Não raras vezes pulamos etapas. Até pisamos sobre os outros para chegarmos, por atalhos à glória do prestígio, daquilo que chamamos de cargos, funções, honrarias e poder, seja no âmbito eclesial, político e social. Geralmente tais comportamentos, tais atalhos, são desastrosos e fazem muitas pessoas sofrerem por conta de nosso egoísmo e infidelidade na missão que nos foi conferida. [...]
Ao discípulo não compete inventar um caminho particular que evite a hora desagradável da cruz. Cabe-lhe assumir e andar junto com seu Mestre no mesmo itinerário. A transfiguração passa pela prova de um rosto desfigurado pela angústia para um rosto glorificado” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma de 2013 da CNBB, pp. 28-33).
Esta Segunda Semana da Quaresma nos propõe profunda conversão em nossa missão, sobretudo ministerial. Discípulos do Senhor que querem chegar à transfiguração pessoal, deverão descer da montanha e assumir a realidade. Muitos gostariam de permanecer, como Pedro, lá na montanha, diante da glória. Jesus dá outra orientação: descer ao hodierno, não contar nada a ninguém, e assumir com amor e dedicação incondicional a missão que nos é confiada. Muitas vezes não compreendo como nós ministros ordenados deixamos pessoas morrer sem nossa absolvição, unção dos enfermos; deixamos de atender as pessoas que nos procuram para reencontrarem a paz interior, porque nos ocupamos com tarefas que nem mesmo condizem com nosso Sacerdócio ordenado. Com quanta frequência deixamos de presidir a Eucaristia para nossas Comunidades, porque precisamos passear. Com quanta facilidade gastamos mal o dinheiro com coisas desnecessárias, ou não enviamos o valor realmente arrecadado nas coletas, como no caso da que faremos nesta Quaresma: A Coleta da Solidariedade no Domingo de Ramos?
Enquanto agirmos sem uma profunda conversão e o resgate da clara noção de justiça em relação ao dinheiro da Comunidade, teremos a coragem profética de pedir maior justiça e transparência por parte de nossos Governantes, tantas vezes corruptos e desonestos, desviando recursos a benefícios pessoais? Oxalá esta Quaresma lapide, moldando-nos ao Mestre que nos escolheu para seu discipulado e não se decepcione ainda mais com nossa prostituição por dinheiro, fama, prestígio e bem estar descabido. Quando utilizo o termo “prostituição” não me refiro à sexualidade, mas à negação da própria consciência, princípios e valores, como acontece com tanta frequência em nossa Política que ou se prostitui aos partidos em demasia, ou não sobrevive ao esquema desonesto.
Sejam todos abençoados e com ternura, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Gn 15,5-12.17-18; Sl 26(27); Fl 3,17-4,1 e Lc 9,28-36) e o resgate
segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013
FRATERNIDADE E O IMPACTO DA MUDANÇA DE ÉPOCA
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
“Nossa era é marcada por intensas e profundas mudanças. Depois de uma longa ‘época de mudanças’, nós nos deparamos com uma ‘mudança de época’, que enfraquece e altera muitos dos paradigmas tradicionais que sustentavam certa visão de mundo. Raras são as sociedades imunes a esse processo. Vivemos em um mundo globalizado, em que todos são afetados por tudo o que acontece em qualquer lugar.
As tradicionais maneiras de compreender o mundo e a maneira de bem viver que serviram de orientação para as pessoas por muitos séculos, sobretudo no Ocidente, já não são aceitas pelas novas gerações. Essa tradição cultural se fragmentou e deu lugar a uma diversidade de novas visões do mundo e da vida, de estruturações sociais, de relação com o sagrado e de modelos antropológicos.
Desta forma, onde outrora existiam valores e critérios que definiam dada realidade ou o modo de proceder, agora há uma diversidade de propostas aceitas como válidas, num contexto de abertura a experimentações. Portanto, a expressão ‘mudança de época’ procura conceituar a etapa da história por que passamos, em que se faz a transição de uma cultura estável para outra, nova e ainda não estabilizada. A cultura estável parece não responder ao momento histórico que já é a passagem para outro momento” (cf. Manual da CNBB para a CF de 2013, pp. 12-13).
A Campanha da Fraternidade dedicada à Juventude é um clamor a todos nós, de discernimento e nos convida à missionariedade e discipulado de cada cristão numa desafiadora mudança de época. Perdemos valores, noção de justiça, ética e não poucas vezes contemplamos uma Juventude desencantada, sem rumo, engolida por ofertas, sem, entretanto, oportunidades sólidas. Saibamos com ousadia profética, aprofundar neste rico tempo quaresmal, nossa missão e nossa responsabilidade por um mundo mais digno.
FRATERNIDADE E JUVENTUDE
Pe. Gilberto Kasper*
“A Campanha da Fraternidade de 2013, que retoma o tema Juventude, se propõe olhar a realidade dos jovens, acolhendo-os com a riqueza de suas diversidades, propostas e potencialidades; entendê-los e auxiliá-los neste contexto de profundo impacto cultural e de relações midiáticas; fazer-se solidária em seus sofrimentos e angústias, especialmente junto aos que mais sofrem com os desafios desta mudança de época e com a exclusão social; reavivar-lhes o potencial de participação e transformação.
Esta Campanha deseja, no contexto do Ano da Fé, mobilizar a Igreja e, o quanto possível, os segmentos da sociedade, a fim de se solidarizarem com estes jovens, favorecer-lhes espaços, projetos e políticas públicas que possam auxiliá-los a organizarem a própria vida a partir de escolhas fundamentais e de uma construção sólida do projeto pessoal, a se compreenderem como força de transformação para os novos tempos, a desenvolverem seu potencial comunicativo pelas redes sociais em vista da ética e do bem de todos, a assumirem seu papel específico na comunidade eclesial e no exercício do protagonismo que deles se espera, nas comunidades e na luta por uma sociedade que proporcione vida a todos.
Evangelizar, hoje, é uma via de mão dupla. Saem de cena os ‘públicos’ ou ‘destinatários’ da evangelização para dar lugar aos ‘interlocutores’. Os interlocutores da evangelização são pessoas que, numa relação dialogal, se enriquecem pela troca de experiências” (Manual da CNBB para a CF 2013, pp. 10-11).
A Igreja, nesta Campanha da Fraternidade, coloca no coração da Juventude nova esperança, novas perspectivas e sentido de vida cristã, que brotem dos Evangelhos e sejam adornados de valores éticos, morais e humanos. Oxalá todos se empenhem por uma FRATERNIDADE E JUVENTUDE à luz dos preparativos da Jornada Mundial da Juventude, agendada com a presença do Santo Padre o Papa no Rio de Janeiro, para julho próximo.
*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
O PROTAGONISMO JUVENIL NESTA CULTURA
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
“Não podemos negar que existe uma relação natural de nossas crianças, adolescentes e jovens com as novas tecnologias. A maioria deles vive no universo midiático e, muitas vezes, aqueles que não têm acesso aos diversos aparelhos ou redes são deixados à margem do processo social ou considerados como menos importantes em relação aos inseridos. É própria dessa faixa etária a busca de experiências, de envolvimentos e de participação em atividades. Os jovens de hoje priorizam a experiência em vez da representação. O protagonismo deles se realiza por meio de conexão com outros jovens e com a esfera pública, quando manifestam uma atitude colaborativa, expressam suas opiniões, mostram competência dentro de uma sociedade global e complexa.
A relação natural entre os jovens e as novas mídias alimenta cada vez mais o gosto e o interesse por ser sujeito. Eles se sentem motivados pelos desafios que esse novo universo comunicacional impõe. Conhecem e dominam as linguagens das novas mídias mais que os próprios pais e educadores, e isso os torna socialmente fortes e valorizados. Nessa realidade, criam um novo modo de se relacionar e de assumir compromissos com a família, com a educação, com a sociedade, com a Igreja, com o ambiente” (cf. Manual da CNBB para a CF de 2013, pp.22-23).
Não só os jovens, mas pessoas de diversas faixas etárias não conseguem sobreviver sem um celular ao ouvido, um notebook no colo, bem como outros instrumentos sofisticados em salas de aula, andando pelas calçadas, aguardando voos em aeroportos e até mesmo durante celebrações nas comunidades. Em encontros sociais, dificilmente as pessoas conversam umas com as outras, sem a interferência de uma terceira ao telefone ou pela internet. A priori são relações mecânicas, artificiais, sem nada de humanamente falando elegante, terno, educado e sensível.
Como seria bom que houvesse uma séria conscientização da necessidade de mudança de hábitos. As pessoas devem manipular os aparelhos eletrônicos modernos de comunicação, e não o contrário. Sociólogos, psicólogos e educadores descrevem tal protagonismo mais uma fuga, do que comprometimento com os apelos de nosso tempo.
OBJETIVOS DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2013
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Conforme o Manual preparado pela CNBB para a Campanha da Fraternidade de 2013, que tem como tema: FRATERNIDADE E JUVENTUDE, e lema: “Eis-me aqui, envia-me” (Is 6,8), determinou-se um Objetivo Geral: “Acolher os jovens no contexto de mudança de época, propiciando caminhos para seu protagonismo no seguimento de Jesus Cristo, na vivência eclesial e na construção de uma sociedade fraterna fundamentada na cultura da vida, da justiça e da paz”.
Minha grande esperança sempre se alimentou numa JUVENTUDE com perspectivas de transformação. É ela que mede a febre existente numa sociedade despida de valores éticos, morais; de justiça e de cidadania. Ela questiona incoerências e hipocrisias. Nem sempre tem sido assim. Por outro lado, imagino como nossa Juventude se sente: para determinadas decisões ainda é criança; para assumir responsabilidade de maior proporção, é considerada já adulta. Ora, a Juventude é Juventude. Não é criança e nem adulto. E muitas vezes se nos passa despercebido, de que a Juventude é um período da vida da pessoa que passa. Passa bem mais rápido do que desejamos. Quem sabe, esta Campanha nos ajude a identificar nosso tempo e nosso espaço no mundo familiar, social, eclesial, político e vital.
Os Objetivos Específicos da Campanha da Fraternidade pretendem “propiciar aos jovens um encontro pessoal com Jesus Cristo a fim de contribuir para sua vocação de discípulo missionário e para a elaboração de seu projeto de vida; possibilitar aos jovens uma participação ativa na comunidade eclesial, que lhes seja apoio e sustento em sua caminhada, para que eles possam contribuir com seus dons e talentos e sensibilizar os jovens para serem agentes transformadores da sociedade, protagonistas da civilização do amor e do bem comum” (cf. Manual da CF de 2013, da CNBB, p. 11).
Não só o Brasil, mas o mundo inteiro confia à Juventude grande esperança à luz do Ano da Fé, bem como dos preparativos para a Jornada Mundial da Juventude, que acontecerá no Rio de Janeiro no mês de julho deste ano. Saibamos ajudar nossos Jovens a reencontrarem seu espaço, sua vez e voz entre todos nós. Tanto a Campanha da Fraternidade como a Jornada Mundial da Juventude, deverão produzir frutos saborosos, com sabor divino.
sábado, 16 de fevereiro de 2013
HOMILIA PARA O PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA
HOMILIA PARA O PRIMEIRO DOMINGO DA QUARESMA
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“O sagrado tempo da Quaresma caracteriza-se pela vivência profunda do mistério da paixão do Senhor. Na Quarta-Feira de Cinzas, iniciamos a caminhada quaresmal em direção da Páscoa de Jesus e nossa.
Para as comunidades cristãs, a caminhada quaresmal se apresenta como um tempo de graça em que o próprio Deus, por seu Filho e no Espírito Santo, nos fortalece na fé e nos educa para o verdadeiro sentido da vida, o qual irrompe definitivamente na Páscoa. A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é um tempo litúrgico muito rico e importante que requer ser vivido com o devido empenho pela prática da caridade, da oração e da escuta da Palavra de Deus.
A Quaresma deste ano insere-se nas comemorações do cinquentenário da abertura do Concílio Vaticano II. Na palavra de João Paulo II, o Concílio se constituiu numa grande graça que beneficiou a Igreja no século XX: nele se encontra uma bússola segura para nos orientar no caminho do próximo século. E o Papa Bento XVI, por sua vez, afirma: ‘o Concílio pode ser e tornar-se cada vez mais uma grande força para a renovação sempre necessária da Igreja’ (Carta Apostólica Porta Fidei, n.5). Em sintonia com o Ano da Fé, a Quaresma é convite para uma autêntica e renovada conversão ao Senhor, único Salvador do mundo. No mistério da sua morte e ressurreição, Deus revelou plenamente o Amor que salva e chama os homens à conversão de vida por meio da remissão dos pecados (cf. At 5,31).
‘A profissão de fé no Deus salvador é disposição constante do povo fiel ao longo da história da humanidade. O ‘credo do israelita’ é reconhecer a ação libertadora de Deus na história, comprometendo-se com ele. Jesus nos ensina como nos libertar das tentações do dia-a-dia. O ‘credo do cristão’ é aceitar Jesus como o Senhor ressuscitado dos mortos.
Frutos da terra e do trabalho humano, os bens que recebemos de Deus (emprestados e não como propriedade nossa, motivo pelo qual devemos superar a avareza, o egoísmo, a insensibilidade com os que têm menos do que nós, sem acumular nada do que não conseguiremos levar à eternidade no dia em que nosso nome ecoar na mesma e, muito menos, esbanjar o que poderia enriquecer a dignidade de mais de um bilhão de pessoas que passam fome, diariamente, no mundo) tornam-se pela ação de graças a ele, sinais sacramentais de sua benevolência e promessa de bens maiores e eternos’ (cf. Liturgia Diária de Fevereiro de 2013 da Paulus, pp. 59-62).
Depois de ser batizado nas águas do rio Jordão e ser publicamente proclamado como o ‘Filho amado de Deus’, Jesus é ‘conduzido pelo Espírito ao deserto’. Mais do que lugar geográfico, o deserto é oportunidade de prova e de afirmação da fidelidade à missão. Jesus rechaça as propostas do tentador, ratificando sua determinação de se entregar até às últimas consequências, obediente à vontade do Pai, e de cumprir sua missão segundo o projeto que fora confiado. [...]
Gosto de pensar que o problema não é o pecado e nem as tentações que diariamente nos são propostas. São-nos apresentadas muito apetitosamente. O problema é ceder ao pecado e às tentações. Elas nos cercam a todo o momento. Percebê-las, constatá-las, e até discerni-las não é nosso problema. Só trairemos a fidelidade para com Deus, na medida em que cedermos ao pecado e às tentações. [...]
A Quaresma se apresenta como um tempo de sobriedade que favorece a oração, a prática da caridade e a revisão de vida. Ela é tempo de graça de Deus que nos conduz às alegrias da festa da Páscoa.
Por isso, a caminhada quaresmal pode se constituir para nós num tempo em que somos conduzidos pelo Espírito ao deserto. Uma oportunidade ímpar para avaliar se nossos projetos de vida, nosso modo de ser e agir corresponde ao projeto de Deus, para purificar nossa prática religiosa, por vezes, infantil e interesseira, alicerçada em milagres ou na prática de uma fé sem responsabilidade comunitária; para superar a prática religiosa construída segundo as nossas opções e exigências; e para rechaçar o império do materialismo consumista que cultua o lucro, o acúmulo, o ter e o consumir.
Naturalmente, a conversão quaresmal só é possível se tivermos a coragem de nos confrontarmos com a Palavra de Deus. Palavra que deve encontrar acolhida e moradia em nós, fazendo calar a voz dos ‘ídolos’ que nos envolvem e atordoam. Conversão que significa nos alienar de nossos insignificantes e confusos projetos para assumir algo mais radical e original que nos conduza à proclamação, com todo o nosso ser, de que Jesus, vencendo as tentações do deserto, triunfará também na definitiva e última tentação da Cruz.
Assim como Jesus, hoje, nós somos conduzidos ao deserto para uma experiência viva de fé. Caminhando nas areias do deserto, o Espírito nos liberta do ‘homem velho’ e nos amadurece para o compromisso com o ‘novo’. Que o grande retiro quaresmal alimente nossa fé” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma 2013 da CNBB, pp. 21-27).
Finalmente a primeira semana da Quaresma, neste ano à luz do ANO DA FÉ, nos indica pequenos exercícios penitenciais, que tentarão lapidar nossa fé esclerosada, envelhecida, mofada nos porões de nossa intimidade. Saibamos deixar arejar a fé, recebida em nosso Batismo. Uma das tarefas interessantes seria saber o dia de nosso batismo. Renovarmos o propósito de não falarmos mal de ninguém, sendo Anjos uns para os outros. Outro bom exercício para esta semana, seria procurarmos não mentir. Não importa chegarmos ao final do dia e não termos conseguido. No dia seguinte, renovemos novamente tais propósitos, repetindo-os como decoramos a tabuada. Em quarenta dias, haveremos de conseguir mudar, pelo menos, alguma coisinha feia em algo maravilhoso diante de nós mesmos, de Deus e dos outros.
Desejando-lhes bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Dt 26,4-10; Sl 90(91); Rm 10,8-13 e Lc 4,13)
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
A QUARTA-FEIRA DE CINZAS INICIA A QUARESMA
Pe. Gilberto Kasper*
Iniciamos, nesta Quarta-Feira de Cinzas, dia de jejum e abstinência, o sagrado tempo da Quaresma para celebrarmos, de coração renovado, o mistério pascal de Jesus. Desde os tempos mais antigos, a Quaresma foi considerada como período de renovação espiritual, de revigoramento interior, para o testemunho do Evangelho.
A celebração da bênção e a imposição das cinzas lembram as palavras de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Pela escuta da Palavra do Mestre e pela acolhida da misericórdia divina revelada em Jesus, superam-se a falsidade e a infidelidade, constitui-se o novo povo de Deus. É nesta perspectiva que podemos compreender a palavra do Evangelho proposto para a celebração da Quarta-Feira de Cinzas: os cristãos são chamados pelo Mestre a assumirem, com fidelidade, as obras da justiça – no relacionamento com o próximo: a esmola; para com Deus: a oração; para consigo mesmo: o jejum.
Na caminhada quaresmal, somos convidados a fazermos a experiência de Deus que acolhe nossa penitência, corrige nossos vícios, cuida de nós incansavelmente, fortifica nosso espírito fraterno, nos dá a graça de sermos nós também misericordiosos.
Na Igreja Santo Antoninho, Pão dos Pobres, na Avenida Saudade, 222-1, nos Campos Elíseos de Ribeirão Preto, teremos a Celebração do Início da Quaresma com a bênção e imposição das cinzas e a Abertura da Campanha da Fraternidade cujo tema deste ano é: FRATERNIDADE E JUVENTUDE, e o lema: “Eis-me aqui. Envia-me” (Is 6,8), às 19 horas.
*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
A QUARESMA É UM “TEMPO FAVORÁVEL”
Pe. Gilberto Kasper*
A Quaresma é um “tempo favorável” para a redescoberta e o aprofundamento do nosso discipulado de Cristo. É tempo para um novo nascimento. Neste tempo, somos chamados a assumir a penitência como método de conversão e unificação interior, como caminho pessoal e comunitário de libertação pascal. É necessário fazer da Quaresma um tempo propício para a avaliação de nossas opções de vida, para corrigir nossos erros e aprofundar a dimensão ética, abrindo-nos aos outros e realizando ações concretas de solidariedade, como nos convida a Campanha da Fraternidade sobre a juventude: “Senhor, ‘eis-me aqui, envia-me’” (Is 6,8). É tempo forte de escuta da Palavra, pois através dela vamos conhecendo os desejos de Deus e aprendendo a praticar a sua vontade.
A Quaresma é tempo de renovação espiritual, como um retiro pascal estruturado nas práticas da oração, do jejum e da esmola (solidariedade, misericórdia). O que a oração pede, o jejum alcança e a misericórdia recebe. Oração, misericórdia, jejum: três coisas que são uma só e se vivificam reciprocamente (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma CNBB, pp. 9-10).
Gosto sempre de propor um exercício aparentemente simples, mas que na verdade é bem difícil: durante a Quaresma não falaremos mal de ninguém. Se não houver motivos para elogios, calaremos! Será um exercício proposto diariamente. Se conseguirmos passar um dos dias da Quaresma sem falar mal de ninguém não importa. O que importa é o esforço que renovaremos todos os dias.
Os frutos de nossos exercícios quaresmais, como jejum, abstinência, oração com maior qualidade, entre outros, deverão ser revertidos à Coleta da Solidariedade, realizada nas Comunidades de todo o Brasil no Domingo de Ramos! Seria bom que desde a Quarta-Feira de Cinzas já guardássemos aquilo de que abrimos mão em favor de quem tem menos do que nós. Assim não chegaremos ao dia da coleta com uma migalha apenas, mas os saborosos frutos de nossa Penitência! É isso que nos converte e nos faz sermos melhores hoje do que ontem!
*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
UM NOVO MODO DE RELACIONAR-SE
Pe. Gilberto Kasper*
“Presenciamos uma aceleração contínua de novos comportamentos, tendências, estilos de vida e expressões de subjetividade. A complexidade e a diversidade das realidades humanas e sociais interagem e se expandem de tal forma que cada vez mais fica difícil prever o comportamento dos jovens e dos seus grupos.
O relacionamento para os jovens da cultura midiática refere-se ao novo modo de comunicar-se. Eles querem ser autores e participantes dos processos de relacionamento. Em virtude disso, cada vez mais, as pessoas, as empresas, as escolas têm deixado modelos hierarquizados, funcionalistas, para valorizar o ser humano, a gestão do conhecimento, a criatividade, a originalidade e o talento associados ao respeito, à individualidade e à busca da qualidade de vida, da valorização de si, do próprio corpo, do tempo livre, da afetividade, da família.
Os jovens e as novas tecnologias formam uma teia complexa e imensa de interatividade e relações. A interatividade significa uma mudança de poder nas relações humanas mais significativas da sociedade, ou seja, na família e na escola. Os jovens exigem cada vez mais um falar e ouvir, um ouvir e falar – o diálogo nasce e cresce a partir da relação natural de interatividade. Essa interatividade está presente no protagonismo dos jovens na música, na arte, no esporte, no trabalho e na educação. Ao interagir com pessoas no ambiente educativo e no trabalho, eles estão exigindo, cada vez mais, mudanças nos diversos âmbitos, como o sociopolítico e econômico, para que possam criar ambientes colaborativos, de transparência, de competência, de inovação e de engajamento na sociedade” (cf. Manual da CNBB para a CF de 2013, pp. 21-23).
A Campanha da Fraternidade em sintonia com a Jornada Mundial da Juventude despertam novo horizonte aos jovens do Brasil e do mundo. Se de um lado parecem passivos e insensíveis aos desafios que a vida se lhes impõem, de outro são convidados a serem os protagonistas no seguimento de Jesus Cristo, que conta com eles na concretização de um Reino de Justiça, Verdade, Liberdade, Paz e Amor verdadeiro. Não basta o jovem ter reservado e respeitado seu espaço na sociedade. Ele precisa agir e reagir com a coragem profética que a Igreja lhe confia!
*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
AS INTERVENÇÕES CIRÚRGICAS
Pe. Gilberto Kasper*
A medicina artificial privilegiou o tratamento mais agressivo à natureza, tanto através da receita de remédios químicos, cada vez mais fortes, como pela intervenção cirúrgica, por extirpar órgãos ou corrigir disfunções. Não há dúvida de que as operações, que interferem profundamente no organismo vivo, cortando-o e mutilando-o, têm salvado muitas vidas. Se eu mesmo, aos 10 anos de idade, não tivesse sido operado, para extração do apêndice, teria morrido de apendicite naquela idade. A técnica, nesse campo, foi-se aprimorando cada vez mais. Hoje essas intervenções se apresentam com grande segurança.
Acontece, porém, que o exagero no uso desse expediente não só agride a natureza humana, como também revela uma concepção distorcida da vida e da função da medicina. O Brasil tem a triste fama de recordista mundial de cesarianas. Felizmente, me garantia alguém adido a este setor da saúde, nem todas essas intervenções são realizadas. Constam apenas para fins de pagamentos. Corrupção! Apenas monetária e não medicinal.
Conheço cidades em que há mais cesarianas registradas na Saúde Pública do que nascituros. Muitas vezes, mulheres que nem deram à luz, são registradas como parturientes. Simplesmente, para que determinados profissionais da Saúde se apossem de valores maiores do que ganhariam, sem tamanha barbárie de falcatruas.
Tomo esse exemplo para advertir sobre dois problemas: um é o faturamento, ou seja, a ganância de lucro que, muitas vezes, está na raiz das intervenções cirúrgicas; e outro é o método de violentar a natureza. Só, em última instância, é permitido recorrer, a esse expediente, que afeta tão profundamente a vida humana e acarreta uma enorme despesa. É quando se esgotaram todos os demais recursos, mais ainda, quando existem fundadas esperanças de melhorar.
*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
A HUMANIZAÇÃO DOS HOSPITAIS E CASAS DE SAÚDE
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Investir em saúde, para muitos, tornou-se sinônimo de cuidar de hospitais e centros de saúde. Mas geralmente se pensam essas instituições como espaço para tratar doentes. Calculam-se os leitos por número de habitantes para se certificar da condição ideal de atendimento à saúde pública. Veem-se esses ambientes como uma espécie de oficina de reparos humanos. Destinam-se aos consertos das avarias. Vai-se ao hospital ou ao centro de saúde para tratar de algum distúrbio e, depois de suficientemente medicado, voltar para casa.
Na verdade não deveria essa ser a função primordial dessas instituições de saúde. Não se poderiam limitar às doenças e, consequentemente, a remediar situações penosas. Pelo contrário: sua função é irradiar saúde, o que equivale a dizer que deveriam ser as grandes promotoras da saúde. As internações são geralmente muito caras e desumanas. Nos primórdios, hospital era somente para quem não tivesse condições de ser tratado em casa.
Hoje se insiste na humanização dos hospitais e casas de saúde, não só no que se refere aos pacientes, mas principalmente no que diz respeito aos familiares. Perdeu-se, nos hospitais, não só a dimensão da subjetividade dos pacientes, como também a intersubjetividade, que os liga aos parentes, como também a intersubjetividade, que os liga aos parentes e amigos. Antes de mudar o sistema, é preciso mudar a mentalidade. Chega de reclamação de pessoas que pedem socorro, porque estão sendo judiadas. E o pior é que não há a quem recorrer para apresentá-las! Os médicos dialogam com exames e não com pacientes, muito menos com familiares!
Os hospitais de nossa cidade metropolitana se congestionam, porque os Governos dos Municípios vizinhos preferem comparar Vans e Coletivos para enviarem seus enfermos a serem atendidos pela excelência de nossa medicina, ao invés de construírem hospitais e casas de saúde capazes de atender seus próprios munícipes. Perdi a conta de quantas vezes precisei “gritar por socorro” em favor de pessoas que morreriam nos Postos de Saúde, caso não fossem encaminhadas imediatamente a algum hospital. Sempre fui prontamente atendido seja por nosso Vice-Prefeito e sua Assessoria, seja pelo Secretário Municipal da Saúde e seus Colaboradores. Mas convenhamos: não é por conta de prestígio, do “jeitinho brasileiro” e da direta interferência dos Responsáveis pela Saúde, que podemos considerar nossa Saúde boa! As coisas deveriam acontecer naturalmente, sem que se tivesse de interceder para salvar vidas. E quantas já conseguimos salvar porque o eco de nosso “grito” chegou à sensibilidade de nossos Servidores! Não apontamos culpados, pelo contrário, agradecemos a sempre benevolência, que sabemos, por sua vez, fazem o que podem. Se as verbas destinadas à Saúde realmente chegassem ao seu destino com transparência, seria possível A Humanização dos Hospitais e Casas de Saúde.
FRATERNIDADE E A CULTURA MIDIÁTICA
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
“A cultura midiática pode ser compreendida como um processo comunicacional que se realiza por meio dos chamados Meios de Comunicação de Massa (Mass Media), jornais, revistas, rádio, televisão, internet, instrumentos utilizados para comunicar, ao mesmo tempo, uma mensagem a um número maior de pessoas.
Com o advento da informática, surge um novo modelo de agentes de comunicação. Os jovens, que até então recebiam a informação de modo passivo, passam a utilizar as novas tecnologias, dominando-as. Eles detêm o conhecimento técnico de tais instrumentos, pois nasceram e crescem na era digital.
A internet criou uma ‘aldeia global’, que possibilita acesso e interação com um número muito grande de pessoas ou segmentos, oferecendo oportunidades que vão ao encontro dos mais diversos interesses. A utilização de redes sem fio e o rápido surgimento de novos aparelhos colaboram para uma comunicação mais ágil e interativa. As redes sociais ganham considerável destaque por permitirem conectar-se ao mundo ou a grupos de interesses, criando mobilizações ou apenas favorecendo entretenimento” (cf. Manual da CNBB para a CF de 2013, pp.19-20).
A Quaresma juntamente com a Campanha da Fraternidade nos possibilita inúmeros questionamentos com relação à Cultura Midiática, especialmente em relação à Juventude. Nunca antes estivemos tão próximos, ao mesmo tempo, tão sós. Alunos em Faculdade assistem às aulas conectados com o mundo, seja por celular, seja pela internet. O professor presencial é, geralmente, ignorado. Pensamos que sabemos mais que nossos pais, mas não conseguimos administrar tanta informação, muito embora manipulemos com propriedade ímpar os sofisticados mecanismos de avançada tecnologia. Será que já inventaram alguma tecnologia que seja capaz de substituir um olhar “olho no olho”; um abraço caloroso e apertado; a sensação de estarmos presentes, visivelmente, sendo quem realmente dizemos ser?
ACOLHENDO O CONCÍLIO ECUMÊNICO VATICANO II EM MINHA TRAGETÓRIA VOCACIONAL
Em pleno Concílio Vaticano II, recebi pela primeira vez, a Sagrada Eucaristia, exatamente no dia 4 de outubro de 1964, na Igreja Matriz da Paróquia Sagrado Coração de Jesus, na Vila Santo Afonso, em Novo Hamburgo, Arquidiocese de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Não se falava em outra coisa. Se na minha primeira infância, imitava o Pároco de minha cidade natal, Três Corôas (RS), para brincar de Missa em latim, minha preparação para a Primeira Eucaristia já se deu totalmente com o uso da língua vernácula – português – bem como aquela celebração jamais esquecida em minha vida. Contava na época com apenas sete anos de idade. Sentia-se, entretanto, uma sensação entre susto e medo.
Acolher o Concílio Vaticano II foi um desafio, principalmente na aplicação da Constituição Sacrosanctum Concilium sobre a Sagrada Liturgia. Éramos submetidos a uma nova Formação Litúrgica, principalmente como Coroinhas da Paróquia. Misturavam-se entre fiéis as reações de alegria por maior participação nas Celebrações com a desconfiança e certa resistência em deixar de rezar o Rosário ao invés de participar da Santa Missa com as respostas “em português”.
Na minha juventude constatavam-se a multiplicidade dos Cursos Bíblicos, a fim de assimilar a CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA; dos Cursos de Liturgia e de Eclesiologia, tentando também maior compreensão da CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM SOBRE A IGREJA.
Ao ingressar no Seminário Menor, no início da década de 70, já não se falava mais diretamente dos Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II, mas das Conclusões da IIª CONFERÊNCIA EPISCOPAL LATINO-AMERICANA DE MEDELLÌN. Afirmava-se que Medellìn era o documento da aplicabilidade do Concílio Vaticano II na Igreja da América Latina.
Chegara o momento histórico de compreender e aplicar a quarta CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA GAUDIUM ET SPES, CONSTITUIÇÃO PASTORAL SOBRE A IGREJA NO MUNDO ATUAL. Foram, além das quatro Constituições Dogmáticas, aprovadas ainda nove Decretos e três Declarações, somando o total de dezesseis Documentos Conciliares.
No início da década de 80, ao ingressar no Seminário Maior para cursar Filosofia, tampouco se utilizava os Documentos do Concílio Vaticano II, porque além de ressoar na Igreja as Conclusões da IIIª Conferência Episcopal Latino-Americana de PUEBLA, vivia-se o auge da Teologia da Libertação. Meu primeiro semestre de Teologia, cursado na Universidade Javeriana de Bogotá, na Colômbia, privilegiou-me conhecer, pessoalmente Gustavo Gutierrez, considerado “o pai da Teologia da Libertação” que nos proferiu a aula inaugural em Janeiro de 1985.
Já na Universidade Católica de Eichstätt, na Alemanha, além da Bíblia de Jerusalém, era indispensável o Compêndio do Concílio Vaticano II. De novembro de 1985 a abril de 1989 fomos incentivados a percorrer todos os seus Documentos, sendo examinados minunciosamente no exame “de Universa”. Com isso, criamos além de simpatia, uma necessária aplicabilidade em nossos inúmeros serviços pastorais nestes 23 anos de Ministério Presbiteral. Desconhecer, desconsiderar, não aplicar as riquezas dos Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II, meio século depois de sua abertura, nos leva a correr o risco de caminhar à margem da Igreja de Jesus Cristo, totalmente ministerial, missionária e discípula à qual dizemos pertencer.
Já a Arquidiocese de Ribeirão Preto contou com três Padres Conciliares: o então Arcebispo de Ribeirão Preto, Cardeal Agnelo Rossi, transferido durante o Concílio para a Arquidiocese de São Paulo, onde foi elevado ao Cardinalado; Dom Romeu Alberti, nomeado primeiro Bispo Diocesano de Apucarana (PR), transferido como Arcebispo de Ribeirão Preto em 1982, que foi o primeiro Padre Conciliar a solicitar a reinplantação do Diaconado Permanente na Igreja e, por isso foi o Bispo Pioneiro a implantar este grau do Sacramento da Ordem em sua Diocese, ordenando o maior número de Diáconos Permanentes durante seu Ministério Episcopal tanto em Apucarana como em Ribeirão Preto. Dizia com bom humor, que chegou a sugerir a Ordenação de Mulheres como Diaconisas, tendo sido vaiado pelo Plenário do Concílio. Finalmente, participou o Padre Luiz Baraúna também de Ribeirão Preto, falecido há pouco tempo, e em nossa humilde opinião, muito mal aproveitado pelo Magistério de nossa Igreja particular.
Quem acolhe com amor eclesial os Documentos do Concílio Ecumênico Vaticano II, se apaixona de tal modo pela Igreja de Jesus Cristo, que dificilmente lhe faltará com a fidelidade! Compreenderá melhor a riqueza contida no Catecismo da Igreja Católica, cujo lançamento pelo Beato, o Papa João Paulo II, celebra sua segunda década. Há vinte anos, recebíamos uma preciosidade de bússola orientadora para a vivência, manifestação e testemunho daquela fé, recebida no dia de nosso Batismo. Só assim seremos capazes de acolher a proposta do Santo Padre o Papa Bento XVI, para vivermos intensa e profundamente este ANO DA FÉ aberto ao mundo inteiro no dia 11 de Outubro passado, e no Brasil, dia 12 de Outubro, Festa de Nossa Senhora Aparecida, encerrando na Festa de Cristo Rei no dia 24 de Novembro deste ano.
O ANO DA FÉ tempera com sabor divino cada um que participa de sua Comunidade de Fé, Oração e Amor, especialmente em seus momentos mais marcantes, como a Festa da Padroeira, NOSSA SENHORA DE LOURDES!
Pe. Gilberto Kasper
sábado, 9 de fevereiro de 2013
HOMILIA PARA O QUINTO DOMINGO DO TEMPO COMUM DE 2013
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Neste domingo que escutaremos o evangelho da pesca milagrosa e do chamado dos discípulos, nós celebramos nossa vocação ao seguimento de Jesus como discípulos e discípulas.
O profeta Isaías é chamado, os apóstolos são chamados, o apóstolo Paulo também é chamado. Diante do toque do Senhor, o profeta responde: ‘Aqui estou! Envia-me’. Os discípulos deixam tudo e seguem a Jesus. O apóstolo das gentes, o menor dos apóstolos, pregou com coragem o Evangelho a todos.
‘Reunidos para celebrar a eucaristia e ouvir a palavra da vida, queremos, na liturgia deste domingo, fazer experiência da misericórdia e da santidade de Deus. Somos desafiados a lançar as redes em águas mais profundas, ir além da simples participação na celebração. Jesus nos convida a nos comprometer com a missão que ele nos deixou.
Acolhamos a palavra de Deus, a qual nos motiva a dar a resposta da fé: Aqui estou, envia-me. Ela nos dá forças para viver na graça divina e avançar sem medo na missão de anunciar o evangelho.
Deus prepara seus mensageiros antes de enviá-los em missão. Atento às necessidades do povo, Deus nos chama e nos envia em missão. A fé em Cristo ressuscitado é o fundamento de toda esperança cristã.
Com o pão e o vinho, ofertamos todas as pessoas que se põem a serviço da comunidade e do reino de Deus, sem medo de lançar as redes em águas profundas’ (cf. Liturgia Diária de Fevereiro de 2013 da Paulus, pp. 40-44).
Jesus chama os primeiros discípulos ao seguimento e os transforma em pescadores de gente. Ele convida a seguir no contexto em que as pessoas estão inseridas, acompanha com a sua graça e pede adesão plena e generosidade na entrega. Todos são chamados a lançar as redes nas águas profundas e a pescar para alimentar as multidões e libertá-las das situações de morte.
O Senhor entra na barca de Pedro, na vida do povo, na realidade em que vivem as comunidades para fortalecer a fé posta à prova continuamente. Ele convida a deixar tudo, a renunciar, para assumir a missão a serviço do Reino. Como Pedro, somos chamados a confiar em Jesus e a obedecer à sua palavra. Recebemos o chamamento à fé, ao discipulado, à missão de anunciar o Evangelho com ardor apostólico, como Paulo.
Isaías faz a experiência do chamado de Deus para ser profeta, no tempo, durante a oração, a celebração. Diante do apelo do Senhor que pergunta: ‘Quem enviarei? Quem irá por nós?’, ele responde prontamente: ‘Aqui estou! Envia-me’. O lema da Campanha da Fraternidade deste ano é tirado justamente de Is 6,8: ‘Eis-me aqui, envia-me!’. Foi bem escolhido para completar o tema: Fraternidade e Juventude. Muitos homens e muitas mulheres continuam dando a resposta no mais profundo do seu ser, confiando na graça e na misericórdia do Senhor.
Neste domingo, que pode ser chamado ‘da vocação’, é oportuno lembrar também a mensagem do Papa Bento XVI por ocasião do 49º Dia Mundial das Vocações: ‘Em todo o tempo, na origem do chamamento divino está a iniciativa do amor infinito de Deus, que se manifesta plenamente em Jesus Cristo... Na realidade, a medida alta da vida cristã consiste em amar como Deus; trata-se de um amor que, no dom total de si, se manifesta fiel e fecundo’.
Amanhã (dia 11 de Fevereiro) fazemos Memória de Nossa Senhora de Lourdes e é Dia Mundial do Enfermo. Dia 12, lembramos Dotothy Stang, assassinada em Anapu, Pará. Dia 13 é Quarta-Feira de Cinzas e começa a Quaresma.
Vocação é dom de Deus. Ele chama. Que o Espírito nos ilumine na escuta do Senhor. Não obstante nossos medos e limites, que o Senhor nos faça discípulos e discípulas seus” (cf. Roteiros Homiléticos da CNBB, nº 24, pp. 84-88).
Enquanto batizados, tornando-nos cristãos, filhos de Deus, somos antes de tudo vocacionados ao amor com sabor divino. Depois acontece, ao longo de nossa vida, a vocação específica. O que não podemos jamais esquecer, que todos independentes da vocação específica, devemos sentir-nos comprometidos com o anúncio do Reino de Deus, respondendo ao que o ANO DA FÉ nos pede e espera de nós: sermos discípulos e missionários do Senhor, manifestando a Fé recebida, como dom gratuito, que deve nortear nossas relações, sinalizando todo nosso convívio a Jesus Cristo! Falar nele, viver como Ele vive em nós e convencer as pessoas que olham para nós, através da coerência entre o que pensamos, falamos (rezamos) e fazemos!
Isso, segundo o Concílio Ecumênico Vaticano II, o Catecismos da Igreja Católica, a Conferência de Aparecida, o Ano da Fé, o Sínodo dos Bispos em Roma, ocorrido em outubro passado e o apelo de nossas Comunidades Eclesiais, precisa ser vivido não individualmente, mas em espírito eclesial, político e social.
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão,
o abraço sempre fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 6,1-8; Sl 137(138); 1 Cor 15,1-11 e Lc 5,1-11)
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