"Deixai vir a mim os pequequinos e não os impeçais, porque o Reino de Deus é daqueles que se lhes assemelham"
sábado, 30 de março de 2013
HOMILIA PARA A SOLENIDADE DA PÁSCOA DA RESSURREIÇÃO DO SENHOR
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“A Vigília Pascal é a celebração da Ressurreição por excelência. Seu caráter de vigília não se refere à preparação da festa, mas tem raízes na celebração da vigília dominical, presente na origem do culto cristão, em que se começa a celebrar o Dia do Senhor ainda no sábado, desembocando no amanhecer do Domingo. A Vigília Pascal, portanto, não é ‘vigília’ à espera de uma festa, mas a própria festividade; a mais importante que ocorre no Domingo de Páscoa. A solenidade do terceiro dia do Tríduo Pascal.
A celebração da Vigília Pascal consta de quatro momentos que costumamos designar como: Liturgia da Luz, Liturgia da Palavra, Liturgia Batismal e Liturgia Eucarística.
É verdade que, de modo bem semelhante ao que ocorreu às mulheres diante do sepulcro vazio, os acontecimentos da vida nem sempre nos parecem fáceis de interpretar, de modo que através deles reconheçamos a Páscoa de Cristo nos envolvendo. Ao nos depararmos com a crueza da violência urbana, a rapidez com que as pessoas são destruídas pelo uso do crack nas grandes cidades, a luta interminável dos povos indígenas de nosso país em conseguir seu pedaço de chão para sobreviver, a perseguição daqueles que se põem ao seu lado, a corrupção institucionalizada no setor político-financeiro... Tudo o que contemplamos com nossos olhos não parece testemunhar a vitória de Cristo sobre a morte. Parece que estamos a procurar entre os mortos aquele que está vivo.
Somente quando nos reconhecemos dentro da História da Salvação e percebermo-nos indissoluvelmente identificados com o Cristo morto-ressuscitado, ao recordarmos suas palavras, é que começamos a vislumbrar a Páscoa. É interessante verificar que o relato de Lucas, na bíblia, não termina com a admiração de Pedro voltando para sua casa. Na bíblia, segue-se com o episódio de Emaús – previsto para ser proclamado na celebração vespertina do Domingo da Páscoa – e na conclusão deste uma citação de que o Senhor havia se manifestado a Simão. Mas a Liturgia da Vigília, de maneira proposital, nos deixa com aquele mesmo suspense, com aquele mesmo ar de surpresa como se estivéssemos à espera da visita do Senhor, de maneira que ele se mostre para nós que, às vezes, só conseguimos perceber os indícios da morte, pois como Pedro vemos apenas os lençóis.
‘Cristo Ressuscitou. Vida nova se inicia: tristeza e desânimo pertencem ao passado; esperança e otimismo contagiam nossa existência. Jesus venceu a morte e vive para sempre junto à nossa comunidade e a cada um de nós.
Acompanhemos Maria Madalena ao túmulo e ouçamos dela a alegre notícia: Jesus já não se encontra entre os mortos, mas está vivo e presente entre nós.
Enquanto a humanidade destrói e mata, Deus ressuscita e dá vida. O amor nos faz acelerar o passo na busca dos objetivos. A presença do Ressuscitado provoca vida nova na comunidade’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 97-113).
O texto de João que proclamamos, na celebração da Páscoa, conjuga o ‘primeiro’ e o ‘terceiro’ dia. O Domingo – Dia do Senhor – é ocasião concreta, experimentável para que os cristãos possam descobrir que Cristo Ressuscitou, segundo o testemunho das Escrituras. O Domingo, para os cristãos de todos os tempos, se mostra como uma submissão do tempo a Deus. Mas, na verdade, é uma maneira de designar a submissão do ser humano e todas as demais criaturas a seu criador, uma vez que o tempo não existe em si mesmo, mas se dá nas percepções e inteligência do ser humano. O ‘Dia’ é uma imagem do ser humano. Portanto, dizer ‘Dia do Senhor’ é falar do ser humano (e da criação inteira da qual ele é símbolo) como pertença a Deus. Em especial, por causa da Páscoa de Jesus, é uma maneira de colocar no centro das atenções a importância – e urgência – do ser humano redimido. O Dia é uma imagem do ser humano que vive de processos, ritmos e ritos. Do ser humano que se vai construindo. Melhor dizendo, do ser humano que se vai revestindo de glória nas palavras da carta de Paulo aos Coríntios.
Esta experiência precisa encontrar lugar real e concreto em nossa época. O domingo, como um dia no calendário, não mais responde por aquela ocasião em que as pessoas podem obter o descanso, exercitar a convivialidade com a família e os amigos. É mais um dia de consumo, de produção, de lucratividade. Para a tradição ocidental da qual fazemos parte – por influência da fé cristã – o domingo era um dia para recordar a permanente necessidade de humanização. Mas, dia após dia, tudo é igual e as urgências humanas dão lugar a urgências econômicas.
Neste sentido, é fundamental reunir-se para celebrar, de modo que os gestos humanos revelem a Escritura e a Escritura lhes confira sentido, reorientando nossa existência. Nesta direção, é muito significativo o convite feito na aclamação ao Evangelho, reiterado, como antífona no canto de comunhão: ‘Celebremos, assim, esta festa, na sinceridade e na verdade’. A Páscoa celebrada tende sempre a fazer-se verdade sincera em ‘nossos dias’, quer dizer, em nossa vida e em sua trama cotidiana. Sabemos que o cotidiano em si não existe – é algo sem forma. Mas o que lhe poderá dar cor, sabor, contorno, veracidade senão a experiência profunda do encontro com o Ressuscitado que continua a passar fazendo o bem como outrora Pedro afirmou? Assim, o tempo pascal se estende diante de nossos olhos como um único dia, o Dia do Senhor, no qual a pessoa humana se redescobre e redefine como criatura de Deus, enriquecida com o seu Amor que a faz reconhecer-se filha bem-quista e com pleno direito à felicidade num mundo mais justo e mais cheio de paz” (cf. Roteiros Homiléticos da Páscoa de 2013 da CNBB, pp. 23-36).
A Páscoa neste ano tem sabor de ANO DA FÉ! A Porta da Fé nos remete ao túmulo vazio de onde exalam os perfumes do Ressuscitado! É desse sepulcro vazio que emana o conteúdo de nossa fé acolhida, compreendida, celebrada e vivida na relação com Deus, que nos oferece o único Cordeiro Imolado necessário para nossa felicidade plena, seus Filhos, Jesus Cristo, agora vive presente entre nós, por força e obra do Espírito Santo!
Celebrando o cinquentenário do Concílio Ecumênico Vaticano II, a renúncia do Papa Emérito Bento XVI e a eleição do Papa Francisco, O Papa da Ternura nossa Páscoa nos convida à ressurreição imediata na relação com Deus, com a Comunidade de Fé, Oração e Amor e com os porões de nossa intimidade. Deixemo-nos envolver pelos aromas da ressurreição no esforço hodierno de configurarmo-nos cada dia mais com o centro de nossa vida, apaixonando-nos por Aquele que nos move a ser melhores do que somos, Jesus Cristo vivo e ressuscitado no meio de nós!
Feliz e santa Páscoa a todos! Cheio de ternura, o abraço amigo e sempre fiel,
Padre Gilberto Kasper
(Ler At 10,34.37-43; Sl 117(118); Cl 3,1-4 e Jo 20,1-9)
sábado, 23 de março de 2013
HOMILIA PARA O DOMINGO DE RAMOS E PAIXÃO DO SENHOR
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“É Domingo de Ramos. São os últimos passos da caminhada rumo à Páscoa. Com Jesus, caminhando rumo à Jerusalém, agora, com ele entramos na cidade, cenário onde se desenvolverão os grandes mistérios de nossa fé. Hoje, carregando ramos em nossas mãos, somos convidados a contemplar o Deus que, por amor, fez-se servo e se entregou para que o ódio e o pecado fossem vencidos e a vida nova triunfasse.
Com o Domingo da Paixão do Senhor, descortina-se a Semana Santa em que a Igreja celebra os mistérios da salvação levados a cumprimento por Cristo nos últimos dias da sua vida, a começar pela entrada messiânica em Jerusalém.
Na celebração deste dia integram-se a entrada de Jesus em Jerusalém e a sua Paixão. A recordação solene da entrada de Jesus em Jerusalém começou no século V. Os cristãos de Jerusalém reuniam-se no monte das Oliveiras, às primeiras horas da tarde, para uma longa liturgia da Palavra. Em seguida, ao entardecer, dirigiam-se à cidade de Jerusalém, levando ramos de palmeiras ou de oliveiras nas mãos. Hoje, Domingo de Ramos, todos nós, exultantes, com ramos nas mãos, proclamamos que Jesus é o Messias, o Ungido. Ao recebê-lo com as palmas da vitória, damos testemunho de seu triunfo sobre a morte, porque compreendemos, na fé, o significado de seu último sinal quando ressuscitou Lázaro: ‘Eu sou a ressurreição e a vida!’.
Os ramos abençoados que levaremos para nossas casas, após a celebração, lembram que estamos unidos a Cristo na mesma doação pela salvação do mundo, na labuta árdua contra tudo o que destrói a vida. ‘Tais ramos devem ser conservados antes de tudo como testemunho da fé em Cristo, rei messiânico, e na sua vitória pascal’.
‘Jesus vem a nós como rei humilde e servidor. A Palavra de Deus nos apresenta importantes aspectos da pessoa e da missão de Jesus: ele é o servo sofredor, aquele que se esvaziou a si mesmo, o justo, Filho de Deus’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 73-78).
Jesus chega e entra em Jerusalém como rei messiânico, humilde e pacífico. Como servo sofredor, caminha rumo à Paixão mediante um ato de total despojamento: ‘Embora de condição divina, Cristo não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo’ (Fl 2,6). O Domingo de Ramos é marcado, de uma parte, pelo mistério, pelo despojamento e pela entrega total e, de outro, pelo senhorio e pela glória do Filho de Deus.
O despojamento do Messias contrasta com a espontânea e entusiasta manifestação do povo. Alegre, a multidão louva a Deus por todos os milagres que tinha visto. O povo aclama a inauguração do novo tempo que privilegia os pobres. Novo tempo marcado pela humildade e ternura e não pela violência e pela força das armas.
A manifestação popular causa medo aos que vigiam a ordem em nome da lei. Os fariseus estavam encarregados de vigiar o comportamento de Jesus. Diante de sua hipocrisia e falsidade, Jesus taxativamente rejeita seu pedido: ‘Eu vos digo: se eles se calarem, as pedras gritarão’ (cf. Lc 19,40). Não há como silenciar certos acontecimentos, mesmo às vésperas do sacrifício da cruz. A manifestação festiva do povo anuncia o significado da palavra e da ação de Jesus. Ele alimentou a esperança de vitória, do bem, da vida na perspectiva dos planos de Deus.
Os ramos abençoados para nós se transformam em sinais de compromisso com os crucificados de nossa sociedade. Em contrapartida, os poderosos preocupam-se e agitam-se.
Celebrar a Paixão e Morte de Jesus é deixar-se maravilhar na contemplação de um Deus a quem o amor oblativo tornou frágil. Por amor veio ao encontro e assumiu a condição humana, experimentou a fome, o sono, o cansaço, conheceu as investidas do tentador, temeu a morte, suou sangue antes de aceitar o projeto do Pai, mas mesmo incompreendido e abandonado, continuou amando. Desse amor brotou a vida em plenitude. Vida que Ele quis repartir com a humanidade até o fim dos tempos.
Contemplar a cruz onde se revela o amor e a entrega do Filho de Deus significa assumir a mesma atitude e solidarizar-se com aqueles que são crucificados nos dias atuais. Sobretudo os jovens que sofrem violência, que são explorados e excluídos; significa denunciar as causas geradoras do ódio, da injustiça e do medo. Significa empenhar-se em evitar que seres humanos continuem a crucificar seus semelhantes. Significa assumir a atitude de Jesus pela não violência, gerar novas relações de vida a partir da dinâmica do amor que conduz à ressurreição” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 56-64).
Se durante a Quaresma fizemos o propósito de não falar mal de ninguém, o Domingo de Ramos que abre a grande Semana Santa nos convida ao balanço: conseguimos não falar mal de ninguém ao longo deste grande deserto em preparação à festa da Páscoa? Os pregos de hoje, que crucificam Jesus na pessoa do próximo, é, frequentemente a língua felina, que mente, calunia, destrói a oportunidade de o outro crescer! Muitas vezes por pura inveja! É também o domingo da prestação de contas de todos os nossos exercícios quaresmais de oração com melhor qualidade, de jejum consciente, pensando naquele que não tem o que comer todos os dias e, finalmente a profunda, sincera e generosa caridade! Sejamos honestos e entreguemos, no espírito da Coleta da Solidariedade os frutos saborosos colhidos em benefício dos que tem menos do que nós. A entrega de nossa partilha deverá ser o que na verdade deixamos de consumir na Quaresma. O resultado da Coleta será entregue integralmente na Cúria pelos Padres ou Colaboradores Paroquiais. Depois serão divulgados os mesmos em nosso Boletim IGREJA HOJE, para que todos saibam de nossa honesta generosidade. Numa das últimas coletas, fui procurado por um Agente de Pastoral de determinada Paróquia com a seguinte afirmação: Padre, eu entreguei na Coleta feita em minha Paróquia, três vezes o valor que foi divulgado. Como devo agir? Perguntar ao Padre onde ficou a Coleta? Ficar omisso? Se não puder fazer alguma coisa, fique sabendo, que não darei mais minha colaboração em nada de minha Paróquia. Eu mesmo farei minha caridade diretamente com quem precisa. Sei, que todo Padre honesto com Deus, consigo mesmo e com a Comunidade fica, como eu, profundamente envergonhado com tal situação! O que nos faz diferentes dos órgãos públicos que desviam verbas aqui e acolá? Não seríamos nós piores e muito mais desonestos? Sejamos desta vez, a exemplo de Jesus, despojados. Não utilizemos o arrecadado na Coleta da Solidariedade para benefício próprio, tornando-a Coleta da Desonestidade!
Sejam todos muito abençoados e que a Semana Santa nos santifique em nossa fé. Com ternura, meu abraço amigo e fiel,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Lc 19,28-40; Is 50,4-7; Sl 21(22); Fl 2,6-11 e Lc 23,1-49)
sexta-feira, 22 de março de 2013
PROGRAMAÇÃO DA SEMANA SANTA DE 2013
IGREJA SANTO ANTONIO, PÃO DOS POBRES
Domingo de Ramos – 24 de Março – (Coleta da Solidariedade da CF/2013).
08h00 – Bênção, Procissão e Missa dos Ramos no Átrio da Igreja.
10h00 – Missa com Bênção de Ramos, sem Procissão.
Segunda-Feira Santa – 25 de Março – ANUNCIAÇÃO DO SENHOR!
Atendimento domiciliar de Confissões aos Enfermos!
Terça-Feira Santa – 26 de Março.
08h00 – Atendimento domiciliar de Confissões aos Idosos!
20h00 – Missa da Unidade com Bênção dos Santos Óleos!
Catedral Metropolitana de São Sebastião de Ribeirão Preto.
Quarta-Feira Santa – 27 de Março.
15h00 – Atendimento Espiritual aos Enfermos e Idosos.
Quinta-Feira Santa – 28 de Março.
19h00 – Instituição da Eucaristia, do Sacerdócio e da Humildade (Lava-Pés).
20h00 – Vigília Eucarística
Sexta-Feira Santa – 29 de Março – Dia de Jejum e Abstinência
(Coleta para os Lugares Santos)
09h00 – Confissões domiciliares: Enfermos e Idosos
17h00 – Celebração da Paixão e Morte do Senhor
Celebração da Palavra, Adoração da Cruz, Oração Universal e
Distribuição da Sagrada Comunhão.
“Dia de recolhimento e silêncio”
Sábado Santo – 30 de Março – VIGÍLIA PASCAL – A Mãe das Vigílias!
19h00 – Bênção do Fogo Novo, Preparação do Círio Pascal, Proclamação da Páscoa, Liturgia da Palavra, Renovação das Promessas Batismais e Liturgia Eucarística!
Domingo da Páscoa da Ressurreição do Senhor – 31 de Março.
08h00 – Missa Solene
10h00 – Missa Solene
11h30 – Batizados
Av. Saudade, 222-1 – Campos Elíseos – Ribeirão Preto – SP.
Pe. Gilberto Kasper
Reitor
“O nosso cordeiro pascal, Jesus Cristo, já foi imolado.
Celebremos, assim, esta festa na sinceridade e verdade” (1Cor 5,7s).
sábado, 16 de março de 2013
HOMILIA PARA O QUINTO DOMINGO DA QUARESMA DE 2013
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Neste Quinto Domingo da QUARESMA, somos convidados a reconhecer nossos pecados e a acolher os irmãos em suas fragilidades, em face de mais uma manifestação do poder libertador do agir misericordioso de Deus, através dos gestos e palavras de Jesus.
A liturgia de hoje revela-nos um Deus que ama e cujo amor nos desafia a ultrapassar a escravidão da lei e das nossas próprias fragilidades para chegar à vida nova, à ressurreição.
Na reta final da caminhada em direção à Páscoa, o domingo de hoje se constitui num forte apelo à conversão. A conversão do coração significa mudança de orientação de vida. Ora, exige-se mudança radical quando a pessoa se encontra desviada do caminho do amor de Deus e aos irmãos, centrada em si mesma e ‘com as mãos repletas de pedras’.
A Quaresma é um tempo para cuidar de nosso coração, libertando-o daquilo que o destrói, da agressividade do julgamento e do rancor. E se fizermos parte do rol agraciado daqueles que necessitam da misericórdia, por não pertencermos ao grupo oficial dos ‘justos’, resta-nos a bem-aventurança da misericórdia do Cristo em seu olhar de ternura e em sua voz firme e suave que diz: ‘Eu também não te condeno. Vai, e de agora em diante não peques mais’. Permitamos que a misericórdia toque nossos corações!
Será decisivo repassar, durante este Ano da Fé, a história da nossa fé que faz ver o mistério insondável da santidade entrelaçada com o pecado. Enquanto a primeira põe em evidência a grande contribuição que homens e mulheres prestaram para o crescimento e o progresso da comunidade, com o testemunho da sua vida, o segundo deve provocar em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai que vem ao encontro de todos (cf. BENTO XVI. Carta Apostólica Porta Fidei, n. 13).
‘Com o encontro de Jesus com a mulher pecadora, somos convidados a acolher em nossa vida o amor e a misericórdia de Deus. Celebramos a eucaristia dispostos a transformar o orgulho em compaixão para com aqueles que atendem ao apelo à conversão. [...] Se não for assim, nossas celebrações não passam de disfarce, hipocrisia e enganação. Isso deve irritar profundamente o coração misericordioso de Deus [...].
As leituras nos revelam a ternura e a compaixão de Deus para conosco: realiza coisas novas para o povo e supera o legalismo frio e contraditório. A justiça de Deus, que nos vem por meio da fé em Cristo, é amor, misericórdia e perdão. [...] Quantas vezes enxotamos pessoas que não consideramos dignas de celebrar conosco a Eucaristia? Ministros Ordenados repreendendo aqueles que ainda vêm às nossas celebrações... Agentes de Pastoral, os que se acham ‘certinhos’ não raras vezes excluem pessoas que segundo seu juízo não correspondem às exigências legalistas de nossa Pastoral? Quem, a não ser o próprio Cristo é digno [...]?
Sempre é tempo de deixar o passado e lançar-se para frente com otimismo, em busca de vida nova. Quem não tiver pecado seja o primeiro a julgar e atirar uma pedra. Quando aceitamos Cristo Ressuscitado, tudo se transforma para melhor em nossa vida’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 54-57).
Em cada Quaresma ressoa o apelo ‘corações ao alto’, convidando-nos a olhar para o futuro e a ir além de nós mesmos, na busca do Homem Novo. Olhar para frente requer mudança de atitudes no sentido de esquecer os rancores do passado, os pecados, as tristezas que imobilizam a vida, daquilo que no presente é causa de queda, de fracasso, de frustração. [...] Tenho uma grande amiga que costuma dizer: ‘O passado já não me pertence mais. É preciso olhar para frente!’ Não devemos relativizar as coisas, mas construir oportunidades novas, ajudando as pessoas a reerguerem-se depois da queda. Muitas vezes acontece o contrário: quando as pessoas ficam deprimidas por causa dos pecados, costumamos pisar nelas e afundá-las ainda mais na lama das consequências de seus pecados. Gosto sempre de pensar que: Perdoar não é esquecer, mas lembrar sem rancor! [...] Sempre há um caminho longo pela frente, sempre podemos mudar o curso da nossa vida, de nossa história, basta que haja o desejo profundo de mudança no interior de nosso coração. Contudo, a conversão é um caminho em construção. [...] Nem sempre encontramos o apoio para a construção de uma nova vida. Principalmente no mundo clerical e de nossas Comunidades, costumamos colar adesivos na testa das pessoas. Temos ainda muitas dificuldades de perdoar de verdade. Como fica difícil à pessoa que busca a sincera conversão, mudar de vida, quando há tantas pessoas que se rogam o direito de marcá-las negativamente, até mesmo espalhando mundo a fora os erros do passado de quem tanto deseja mudar seu presente e futuro. Um dos hábitos que abomino entre nós, os ministros do Perdão, é falar mal daqueles cujos pecados vieram à tona. Quase sempre, aqueles que jogam as pedras, têm pecados semelhantes ou até mais graves. Escondem-nos (seus pecados) atrás de quem foi descoberto e isso é terrível e diabólico [...].
Olhando para a nossa sociedade, averiguamos que o fundamentalismo e a intransigência, muitas vezes, falam mais alto do que o amor: mata-se, oprime-se, escraviza-se em nome de Deus; desacredita-se, calunia-se, em razão de preconceitos; marginaliza-se em nome da moral e dos bons costumes. O que fazer para transformar a realidade em que estamos mergulhados?
Jesus, face à atitude condenatória dos fariseus e escribas, denuncia a lógica dos que se julgam ‘perfeitos e autossuficientes’. O que se considera justo não sabe perdoar [...] Quantas pessoas conhecemos, que são assim. Quantas experiências já se fizeram, especialmente entre quem busca cargos, funções, prestígios e poderes, pisando sobre a lama dos que algum dia erraram? [...]. ‘Devemos perdoar como pecadores, não como justos’. Todos temos alguma pedra na mão para jogar nos outros. Estamos todos a caminho e, enquanto caminheiros, somos imperfeitos e limitados. É preciso reconhecer, com humildade e simplicidade, que necessitamos todos da ajuda do amor e da misericórdia de Deus para chegar à vida do Homem Novo. O mais importante não é acusar, mas que o amor seja mais forte do que o nosso pecado.
A Eucaristia é sacramento de unidade, de comunhão. Substituamos as pedras por gestos de partilha e de perdão. A Eucaristia é sacramento da misericórdia e do perdão divinos. Não a celebramos porque somos melhores do que os outros, e nem somos perdoados porque merecemos, mas porque Deus é perdão gratuito” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 47-55).
Que nossos exercícios espirituais de penitência quaresmal se transformem em frutos saborosos diante de Deus e de nossa Igreja. Não apenas o resultado dos mesmos, que será a Coleta da Solidariedade a ser entregue com senso de justiça no próximo domingo, mas nossa disposição e nosso esforço para perdoar àqueles que ainda esperam por nosso perdão. Nunca esqueçamos que o próprio Cristo nos adverte: “Não são sacrifícios, mas misericórdia que agradam o coração do meu Pai”!
Na próxima terça-feira, dia 19 de Março, celebraremos a Festa de São José, Esposo de Maria e Padroeiro da Igreja! Interceda Ele por nossa Igreja!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço sempre amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Is 43,16-21; Sl 125(126); Fl 3,8-14 e Jo 8,1-11)
terça-feira, 12 de março de 2013
REALIDADE ATUAL DA PÁSCOA
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Aquilo que nós celebramos na ação litúrgica na Realidade Atual da Páscoa não é simples lembrança de um acontecimento passado, mas uma atualização do ato salvador que continua a se aplicar atualmente aos membros do corpo, antes de tudo aos participantes da celebração. Não há, pois, apenas memória, mas também presença; e há antecipação da volta de Cristo: o que significa, ao mesmo tempo, que esperamos essa volta e que participamos da Páscoa do Senhor, contribuindo para que ele venha (cf. 2Pd 3,11). Eis o segundo pedido da oração do Pai Nosso.
Aqui cabe colocar a pergunta sobre o caráter real das festas: quando os textos litúrgicos empregam o termo “hodie”, quererá isto dizer que hoje o ato de Cristo que é comemorado se renova realmente?
A essa pergunta parece que se deva responder o seguinte: Em toda a nossa vida, realizamos o Mistério Pascal, a passagem deste mundo ao Pai. Portanto, quando celebramos a Páscoa, nos três dias santos e na cinquentena pascal, mas também cada domingo e a cada sacramento, não é um acontecimento passado que festejamos, mas um acontecimento presente, sempre atual.
Em nossa Igreja Santo Antoninho, na Avenida Saudade, 222-1, nos Campos Elíseos, celebraremos o Tríduo Pascal e a Solenidade da Páscoa da Ressurreição do Senhor com sabor do “Ano da Fé”. Na Quinta-Feira Santa, às 19 horas, celebramos as Instituições dos Sacramentos da Eucaristia, da Ordem e da Humildade com o rito do Lava-Pés. A Celebração da Paixão e Morte do Senhor será às 17 horas na Sexta-Feira Santa – Dia de Jejum e Abstinência com a Coleta para a Conservação dos Lugares Santos. A “Mãe das Vigílias e Celebrações”, a Vigília Pascal será às 19 horas do Sábado Santo com os Ritos da Bênção do Fogo Novo, a Preparação do Círio Pascal, a Proclamação da Páscoa, a Liturgia da Palavra, a Renovação de nossas Promessas Batismais e a Liturgia Eucarística. Já no Domingo da Ressurreição do Senhor celebraremos as 8 e 10 horas, seguindo os Batizados às 11h30.
Durante os dias da Semana Santa levaremos o Sacramento da Reconciliação aos nossos amados Enfermos e Idosos que não poderão participar de nossas celebrações, sendo para eles A Igreja do Ir! Assim, desejamos a todos uma santa, abençoada e feliz Páscoa!
O MISTÉRIO PASCAL SE REALIZA NO TEMPO
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
Nossa vida e nossa percepção das coisas se realizam no tempo. O tempo é sempre uma realidade misteriosa que não conseguimos definir. Não sabemos dizer precisamente em que medida essa realidade existe nas coisas ou somente em nós. Em todo caso, sabemos pela revelação que Deus que existe fora e acima do tempo, para vir ao nosso encontro e nos salvar, agiu no tempo dos homens. Por isso o tempo se acha santificado, tornando-se o meio de nossa caminhada progressiva para a união definitiva da humanidade com Deus. Toda vida humana e toda porção de vida humana, torna-se, então, uma etapa dessa caminhada.
Já que nossa vida humana se realiza progressivamente no tempo, o mesmo acontece com a vida de Deus em nós.
A entrada e a progressão nesta vida chamam-se O Mistério Pascal. O Mistério Pascal é a passagem “deste mundo”, através de um mistério de morte na obediência do Filho, para o mundo novo, no estado de ressurreição “junto do Pai” (cf. Jo 13,1). A passagem, já realizada para Jesus e para sua Mãe, continua a se realizar para os outros membros de seu corpo. Só terminará no final da história, quando o Cristo vier na glória para “julgar os vivos e os mortos”.
No próximo domingo celebraremos na Igreja Santo Antoninho, na Avenida Saudade, 222-1, nos Campos Elíseos, o início da grande Semana Santa! É o Domingo de Ramos, quando celebramos a Entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Vai ao encontro da cruz, de sua paixão e morte. Às 8 horas, no Átrio de nossa Igreja, benzeremos os Ramos, seguindo em procissão ao interior da mesma para a Celebração do Domingo da Paixão do Senhor. Na Missa das 10 horas só teremos a bênção dos Ramos. Faremos a Coleta da Solidariedade, devolvendo os envelopes que contém os frutos saborosos de nossos exercícios de penitência quaresmal, principalmente nosso jejum e abstinência, partilhando de nossa pobreza com os que têm menos do que nós.
Na próxima Terça-Feira Santa, dia 26 de Março, às 20 horas, na Catedral Metropolitana, celebraremos a Missa da Unidade com a Bênção dos Santos Óleos, que ao longo do ano santificarão nosso Povo!
A RIQUEZA DO TEMPO PASCAL
Pe. Gilberto Kasper
pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
A Riqueza do Tempo Pascal não é o ato histórico-temporal da passagem do Cristo que se torna de novo presente: esse ato foi realizado uma vez por todas. Mas ele permanece em seu resultado: o Cristo glorificado é aquele que passou ao Pai por sua morte-ressurreição. Por ser este ato o ato do Filho de Deus, reveste um caráter de eternidade e nos pode ser aplicado realmente hoje. Assim, sob a influência da cabeça, que passou uma vez por todas, continua a operar-se até à parusia, a passagem (a Páscoa) dos membros de seu corpo.
E isto nos leva a uma observação mais geral: na Páscoa e nas outras festas é sempre o mistério total da salvação que se celebra. Mas na Páscoa, ele é celebrado numa visão diretamente centrada no âmago e no conjunto da história da salvação, enquanto que, nas outras festas do Senhor, da Virgem e dos Santos, é dirigindo a atenção para uma das etapas da história da salvação que nos aproximamos do centro.
Por que Deus nos faz realizar a passagem de modo mais intenso em certos momentos de nossa vida, e não de maneira mais uniforme? Simplesmente porque Ele nos trata como pessoas. É próprio de a natureza humana experimentar momentos mais significativos, alternativas e ritmos, tempos fortes, emergindo da rotina de todos os dias. Assim, o mistério pascal se insere em nossa vida, através dos ritos litúrgicos, em momentos privilegiados em que nossa capacidade subjetiva de acolhimento pode concretizar-se.
Observamos, finalmente, que o retorno anual do momento forte do Tempo Pascal se baseia numa convivência de ordem natural e cultural; vivemos realmente em ciclos de anos e nossa existência é dependente do sol. Assim, inserindo-se no ciclo anual, o momento forte e A Riqueza do Tempo Pascal insere-se em nossa vida. Saibamos aproveitar da riqueza deste tempo à luz do que nos propõe a Porta Fidei, O Ano da Fé, isto é, testemunhar sem escrúpulos e medos nossa verdadeira e profunda fé no Cristo Ressuscitado!
É Ele, o Ressuscitado que deve ser a razão de nossa fé, o sentido de nossa vida, a realização de nossa felicidade plena, alimentada de esperança em esperança, por um mundo mais humano e digno!
A ALIANÇA E O TEMPO PASCAL
Pe. Gilberto Kasper*
A assembleia não é uma simples coletividade de indivíduos. É uma comunidade de pessoas. Daí uma nova antinomia: cada qual deve realizar sua vocação mais pessoal fazendo seu o comportamento de um grupo celebrante. Há uma contínua tensão entre o indivíduo que vem à assembleia e a ação simbólica que lhe é proposta na liturgia. Só pelo fato de ser crente, não se torna ele imediatamente concorde com a celebração.
Essa tensão tem dois aspectos. Um de seus termos refere-se à própria realidade da ação proposta: deixar-se julgar e converter (Metánoia) pela palavra; morrer e ressuscitar com Cristo; comungar com Deus e seus irmãos; em suma “revestir o homem novo criado segundo Deus na justiça e santidade” (Ef 4,24). Atingir a plenitude do ser cristão exige uma luta, uma libertação progressiva do velho homem, uma passagem à vida em Cristo.
Outro aspecto refere-se aos sinais nos quais, no Tempo Pascal, esse mistério é proposto: uma linguagem parcialmente desconhecida, por vezes, em seu significado (por exemplo, textos bíblicos), mas, sobretudo em sua significância (sentido novo para a fé, proposto pela “Porta Fidei no Ano da Fé); pessoas com quem celebro que não escolhi e que não são todas, conhecidas; gestos sacramentais “transmitidos”, que não criei e cuja amplitude me escapa sempre em parte; textos e cantos com os quais me devo exprimir.
A pastoral litúrgica deve constantemente evitar um duplo obstáculo. De um lado, a celebração tirânica, na qual os indivíduos são levados a desempenhar um papel na aparência muito comunitário (cantos e gestos uniformes, fervor excessivo), mas que absorve o indivíduo no grupo e não favorece a liberdade profunda das pessoas. De outro lado, a celebração hierarquizada e convencional, em que cada um assiste sem se engajar, refugiando-se numa piedade pseudopessoal.
Na realidade, pessoa e comunidade requerem-se reciprocamente. A Aliança e o Tempo Pascal supõem um povo de crentes que se engajam livremente.
*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
UM NOVO MODO DE RELACIONAR-SE
Pe. Gilberto Kasper*
“Presenciamos uma aceleração contínua de novos comportamentos, tendências, estilos de vida e expressões de subjetividade. A complexidade e a diversidade das realidades humanas e sociais interagem e se expandem de tal forma que cada vez mais fica difícil prever o comportamento dos jovens e dos seus grupos.
O relacionamento para os jovens da cultura midiática refere-se ao novo modo de comunicar-se. Eles querem ser autores e participantes dos processos de relacionamento. Em virtude disso, cada vez mais, as pessoas, as empresas, as escolas têm deixado modelos hierarquizados, funcionalistas, para valorizar o ser humano, a gestão do conhecimento, a criatividade, a originalidade e o talento associados ao respeito, à individualidade e à busca da qualidade de vida, da valorização de si, do próprio corpo, do tempo livre, da afetividade, da família.
Os jovens e as novas tecnologias formam uma teia complexa e imensa de interatividade e relações. A interatividade significa uma mudança de poder nas relações humanas mais significativas da sociedade, ou seja, na família e na escola. Os jovens exigem cada vez mais um falar e ouvir, um ouvir e falar – o diálogo nasce e cresce a partir da relação natural de interatividade. Essa interatividade está presente no protagonismo dos jovens na música, na arte, no esporte, no trabalho e na educação. Ao interagir com pessoas no ambiente educativo e no trabalho, eles estão exigindo, cada vez mais, mudanças nos diversos âmbitos, como o sociopolítico e econômico, para que possam criar ambientes colaborativos, de transparência, de competência, de inovação e de engajamento na sociedade” (cf. Manual da CNBB para a CF de 2013, pp. 21-23).
A Campanha da Fraternidade em sintonia com a Jornada Mundial da Juventude despertam novo horizonte aos jovens do Brasil e do mundo. Se de um lado parecem passivos e insensíveis aos desafios que a vida se lhes impõem, de outro são convidados a serem os protagonistas no seguimento de Jesus Cristo, que conta com eles na concretização de um Reino de Justiça, Verdade, Liberdade, Paz e Amor verdadeiro. Não basta o jovem ter reservado e respeitado seu espaço na sociedade. Ele precisa agir e reagir com a coragem profética que a Igreja lhe confia!
*pe.kasper@gmail.com
Mestre em Teologia Moral, Especialista em Bioética, Ética e Cidadania, Professor Universitário, Assistente Eclesiástico do Centro do Professorado Católico, Reitor da Igreja Santo Antônio, Pão dos Pobres da Arquidiocese de Ribeirão Preto e Jornalista.
sábado, 9 de março de 2013
HOMILIA PARA O QUARTO DOMINGO DA QUARESMA LAETARE
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Na caminhada rumo à Páscoa, atingimos o quarto estágio de nosso grande retiro. À medida que os dias passam, e as festas pascais se aproximam, aumenta nossa alegria. ‘Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações’.
O Senhor nos acolhe e convida a tomarmos parte no banquete do seu amor misericordioso, deixar o nosso coração transbordar de alegria com a música da festa, com as coisas boas que aconteceram na convivência com as pessoas e a buscar no interior de nossa vida motivos para bendizer o Senhor.
Neste Quarto Domingo da Quaresma ressoa o convite de participarmos na alegria do Pai que, agora, por meio de Jesus Cristo, acolhe e salva os pecadores. O amor e a bondade de Deus libertam as pessoas de suas misérias, da solidão e do desespero. Para que isto aconteça, se faz necessário entrar na lógica do amor e da bondade do Pai que se revelam em Jesus.
Como filhos pródigos reconduzidos ao aconchego familiar pelo abraço amoroso do Pai, começamos a experienciar o amor de Deus que, na Páscoa de seu Filho Jesus, nos perdoa e nos acolhe com carinho em sua casa. À luz do gesto do Pai misericordioso entendemos melhor que a ‘fé, que atua pelo amor’ (Gl 5,6), torna-se um novo critério de entendimento e de ação que muda toda a vida do homem. Na descoberta diária do seu amor, ganha força e vigor o compromisso missionário dos crentes que jamais pode faltar. Com efeito, a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência de graça e de alegria.
‘Assim como o povo de Deus celebrou a Páscoa e se alimentou dos frutos da terra após entrar na terra prometida, vamos nos nutrir da palavra da vida, que nos torna novas criaturas em Cristo e nos faz experimentar a acolhida carinhosa do Pai celeste.
O povo se liberta à medida que consegue o sustento com o próprio trabalho. Elementos básicos da boa convivência familiar são a reconciliação, a alegria e o diálogo. A encarnação de Jesus reconciliou-nos com Deus e nos tornou novas criaturas” (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 38-40).
Celebrando hoje o mistério do amor misericordioso de Deus, vemos que a parábola põe em cena três personagens: o pai, o filho mais novo e o filho mais velho. Três figuras que se transformam em referenciais para o nosso modo de ser e agir.
O pai é o protagonista da parábola. É apresentado como uma figura excepcional, que conjuga o respeito pelas decisões e pela liberdade dos filhos, com um amor gratuito e sem limites. Esse amor manifesta-se na comoção com que abraça o filho que volta, mesmo sem saber se esse filho mudou a sua atitude de orgulho e de autossuficiência em relação ao pai e a casa. Trata-se de um amor que permaneceu inalterado, apesar da rebeldia do filho. Um pai que continuou amando, apesar da ausência e da infidelidade do filho.
O filho mais novo é ingrato, insolente e obstinado, que exige do pai muito mais do que aquilo a que tem direito. Da perda dos bens materiais brota a consciência da dignidade perdida e da condição de filho desperdiçada. Aqui emerge a grandeza da relação filial com o pai. Decididamente, o jovem filho empreende o caminho de retorno à casa do pai. É o apelo do tempo quaresmal: ‘Deixai-vos reconciliar com Deus’! O abraço reconciliador do pai faz o pecador experienciar a alegria do perdão.
Na cena há alguém que não entende a festa e nem a suporta: o filho mais velho. Ele é o ‘certinho’ que sempre fez o que o pai mandou, que cumpriu as normas e que nunca passou por sua cabeça abandonar a casa do pai. No entanto, seu modo de proceder se pauta mais pela lógica da ‘justiça’ do que da ‘misericórdia’. Este filho está satisfeito em servir um pai-patrão e incomodado diante do ‘pai cuja alegria é perdoar’.
A Quaresma ao mesmo tempo em que nos convida ao retorno à casa do Pai, ‘deixando-nos reconciliar por ele’, apela à misericórdia solidária: ‘Jesus Cristo ensinou que o homem não só recebe e experimenta a misericórdia de Deus, mas é também chamado a ter misericórdia para com os demais. O ser humano alcança o amor misericordioso de Deus e a sua misericórdia, na medida em que ele próprio se transforma interiormente, segundo o espírito de amor para com o próximo.
A liturgia deste domingo convida-nos a experimentar a alegria da Páscoa que se aproxima, porque já não há mais lugar para tristezas, pois o amor misericordioso do Pai por nós seus filhos nos torna participantes de seu banquete” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 41-48).
A parábola do Pai Misericordioso nos sugere os passos do Sacramento da Reconciliação: exigimos a parte da herança que nos pertence, saímos da casa do pai, cuja convivência virou “mesmice”, nem olhamos para trás, deixando o pai falando sozinho. Viramos as costas para ele e nos desvencilhamos dele. Fazemos de nossa vida o que bem queremos. Perdemos a noção de valores e nos afogamos no consumismo, atraindo para nós mesmos um razoável grupo de amigos, que nos ajudam a gastar descabidamente nossa vida. Quando acaba nosso dinheiro, acabam também a fama, o prestígio e os que pensávamos nossos amigos, mas que eram meros interesseiros. Fazemos a experiência da exclusão, da difamação e até da calúnia. Entramos em “depressão profunda”, chegando ao fundo do poço. É neste estágio de nossa vida que nos lembramos do Pai. Numa rápida retrospectiva de vida, fazemos um profundo exame de consciência. Eis os passos da boa confissão.
Reconhecemo-nos sujos, cheios de pecados. Isso exige humildade!
Fazemos nosso Ato de Arrependimento ou contrição. Enchemo-nos de coragem para a volta. Aqui é interessante perceber que o Pai não corre atrás do filho. Deixa que vá. Mas fica, cheio de esperança, de olhos fixos na volta do pródigo. E quando o avista, nem deixa que chegue, mas sai correndo ao encontro do filho que resolveu voltar. A alegria do Pai, em avistar a volta do filho é maior do que qualquer pretensão de castigo.
O filho se diz arrependido e pede o perdão. Também aí o pai nem deixa o filho terminar sua confissão. Abraça-o, sinal de acolhida. Beija-o, sinal de ósculo da paz. O beijo no rosto do filho garante que lhe será restituído a paz que o pecado lhe roubou. Túnica nova: o passado já passou; daqui para frente é vida nova, como nova é a túnica. Quem uma vez foi perdoado pelo Pai, não tem mais o direito de culpar-se de nada. Sandálias para os pés, já que somente filhos de escravos andavam descalços. Os filhos dos Senhores calçavam sandálias. Anel no dedo: volta à condição de príncipe e herdeiro. Mesmo que tenha esbanjado a parte de sua herança, continua sendo herdeiro de tudo o que é do Pai. Novilho gordo, música e festa: A Eucaristia que celebra sempre de novo a Páscoa do Senhor! É lindo demais este riquíssimo Sacramento da Reconciliação!
Já o filho mais velho não aceita a volta do irmão. Sente inveja porque o Pai acolhe aquele que abandonara a Família. É duro no julgamento, pois ele sempre observou tudo direitinho. Não conhece a dimensão da misericórdia do Pai. Prefere condenar a acolher. Um pouco daquilo que acontece frequentemente em nossas Comunidades. Acontece, também, no Presbitério, na Política e na Sociedade! Somos muito rígidos em nossos julgamentos e nos colocamos no lugar de Deus, já emitindo nossa condenação, geralmente expressa na exclusão do que consideramos mais pecador do que nós.
Que a Quarta Semana da Quaresma nos ajude na profunda conversão. A qual dos personagens nos identificamos mais: ambos merecem o amor misericordioso do Pai. Porém, o Pai não impõe, mas dispõe da graça do perdão! É necessário que sintamos e queiramos a necessidade do perdão de Deus. Concluo com o que gosto de pensar: justiça + misericórdia = amor com sabor divino!
Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, meu abraço sempre fiel e amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Js 5,9-12; Sl 33(34); 2Cor 5,17-21 e Lc 15,1-3.11-32)
quarta-feira, 6 de março de 2013
O sorriso de Maria...

Maria é Mãe, assim como Deus é Pai

sábado, 2 de março de 2013
HOMILIA PARA O TERCEIRO DOMINGO DA QUARESMA DE 2013
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
“Somos peregrinos com Jesus rumo à Páscoa. Eis que chegamos ao terceiro domingo da Quaresma. Jesus intensifica o convite à conversão.
Após termos celebrado os domingos das ‘tentações’ e ‘da transfiguração’ de Jesus, a liturgia da palavra ressalta a urgência da conversão pela renovação batismal. A conversão se traduz na resposta de fé à paciência de Deus.
A Quaresma é o tempo da paciência de Deus, é o tempo que ele nos dá para que possamos produzir os frutos da justiça e da fraternidade.
A fé se revela com a mudança de atitudes, com a mudança do coração por meio do árduo processo de conversão. Converter-se implica voltar para Deus e produzir os frutos do amor, da solidariedade e da paz. Que a caminhada quaresmal suscite ‘em todos uma sincera e contínua obra de conversão para experimentar a misericórdia do Pai, que vem ao encontro de todos’ (cf. Carta Apostólica Porta Fidei de BENTO XVI, n. 13).
‘As leituras revelam que Deus caminha conosco e não se conforma com a situação do seu povo sofrido. Nutridos pela sua palavra, seremos capazes de produzir frutos abundantes de fraternidade.
Deus não suporta ver o povo sendo manipulado e mantido no sofrimento e convoca líderes para libertá-lo. Deus é paciente e nos dá sempre novas chances, mas exige também atitudes de nossa parte. É preciso saber ler os fatos históricos para melhorar o hoje da história’ (cf. Liturgia Diária de Março de 2013 da Paulus, pp. 21-23).
A Quaresma é um tempo para avaliarmos a qualidade de nossas respostas aos projetos da vontade de Deus. Será que elas correspondem à expectativa de quem confiou em nós? Pode ocorrer que os frutos não estejam à altura do esperado. Quem planta e cultiva determinada árvore frutífera, é natural que almeje colher bons frutos. ‘Foi lá procurar figos e não encontrou. Então disse ao agricultor: Já faz três anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro’. Desilusão! A paciência parece estar se esgotando. O impulso humano é dar um basta: ‘corta-a!’.
Apesar de nossas dificuldades, Deus não age assim. Mesmo que sua paciência esteja no limite, ‘o Senhor é piedade e compaixão, lento na cólera e cheio de amor’ (Sl 145,8). Cristo, por sua vez, intercede constantemente por nós junto ao Pai, dilatando e ampliando sua paciência. O amor misericordioso torna possível o êxito dos projetos de Deus. Converter-se a Deus é voltar-se para Deus, é caminhar rumo a ele.
A urgência da conversão quaresmal não se apresenta aqui como uma ameaça, mas como um convite libertador que suscita alegria, pois nos libertamos de algo que impede de crescermos como pessoas fiéis. O apelo à conversão requer mudança (metánoia) de nossa maneira de pensar, para assimilarmos os critérios de Jesus e seu estilo de vida. A conversão, como êxodo, é uma atitude do coração que exige manifestação externa no cotidiano pela dedicação às obras de caridade, à promoção da fraternidade e à defesa da vida.
“A conversão e a fé sem a caridade não dá fruto, e a caridade sem a fé seria um sentimento constantemente à mercê da dúvida. Fé e caridade reclamam-se mutuamente, de tal modo que uma consente à outra realizar o seu caminho’ (cf. Carta Apostólica Porta Fidei de BENTO XVI, n. 14).
O chamado à conversão, que nos transforma em novas criaturas, começa pela fé e no batismo, exige esforço contínuo para que, renunciando a nós mesmos, assimilemos a vontade de Deus, estabelecendo novos relacionamentos com as pessoas e com o mundo que nos cerca. A conversão apoia-se no crescimento da fé e nas relações pautadas pela Boa Nova do Reino.
No caminho da conversão, iluminados pela ‘sarça ardente’, percebemos sempre que algo poderia ser melhor, no que fazemos e somos, mesmo em nossas ações e atitudes dignas de aplausos, descobrimos resquícios de egoísmo e falta de amor. Mais do que nos penalizar, estas descobertas nos alegram. Pois pela confissão da nossa fraqueza e a humilhação pela consciência de nossas faltas, somos reconfortados pela misericórdia de Deus. Contudo, não abusemos da paciência de Deus, não tomemos como desculpa a sua misericórdia para retardar nossa conversão. A paciência de Deus não é uma atitude passiva, mas uma solicitude para que o homem viva. Deus crê no homem, crê que ele pode mudar a sua conduta passada, para se voltar para Aquele de quem se afastou.
Conversão é convite à vida. Mais do que anúncio de ameaças, é proclamação de uma boa nova. Jesus apela “à conversão, anunciando a proximidade do Pai amoroso e misericordioso” (cf. Roteiros Homiléticos da Quaresma da CNBB, pp. 34-40).
Esta terceira semana da Quaresma insistindo em nossa conversão, isto é, voltar nosso coração novamente para Deus, a quem deixamos falando sozinho ou lhe viramos as costas por conta de nossas infidelidades e pecados, nos convida a aproximar-nos do riquíssimo Sacramento da Reconciliação. Lamentavelmente ainda muitos bons católicos têm suas dificuldades com a confissão auricular (individual), por inúmeras razões, algumas delas, compreensíveis, outras não. Para mim, o mais rico sacramento depois da Eucaristia, de que dispomos sempre, é o da Reconciliação. Os Sacerdotes se reúnem em Mutirão de Confissões neste tempo rico, que a Igreja nos concede. Procuremos informar-nos com nossas Comunidades, onde estão acontecendo os Mutirões de Confissões ou onde poderemos adentrar nosso “sacrário pessoal”, os porões de nossa intimidade ou nossa consciência, celebrando o perdão, libertando-nos de tudo que nos aprisiona. Os Sacramentos da Reconciliação e da Eucaristia nos devolvem a verdadeira PAZ que o pecado nos rouba! Só então produziremos frutos saborosos em nossas relações pessoais, sociais, eclesiais e políticas, como pessoas de boa fé!
Desejando-lhes muitas bênçãos e eficaz reconciliação com Deus, com o próximo e consigo mesmo, com ternura meu abraço amigo,
Pe. Gilberto Kasper
(Ler Ex 3,1-8.13-15; Sl 102(103); 1Cor 10,1-6.10-12 e Lc 13,1-9)
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