COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!
Animados pela celebração do Mês
da Bíblia, na qual encontramos a Palavra por excelência, que se diferencia das que normalmente ouvimos,
queremos orientar nosso agir tentando entender, a cada domingo, o que Deus nos
fala. À medida que celebramos o Tempo Comum o anúncio da Paixão é
uma realidade muito próxima.
A liturgia deste domingo
apresenta a palavra como luz para nossa vida e nos coloca diante de duas
realidades que, continuamente, nos interpelam e até exigem nossa opção: a “palavra do mundo” e a “palavra
de Deus”. Convida-nos a pensar no modo como nos situamos na comunidade
cristã e na sociedade e até que ponto esta palavra é capaz de orientar nosso
agir.
Discípulos dele (de
Jesus) somos chamados a tomar posição, em meio aos conflitos sociais, a favor
do direito e da justiça e pôr-nos a serviço de todos, principalmente dos
empobrecidos, sem ambicionar honrarias. Façamos de nossa prática religiosa não
um trampolim para o prestígio, mas um sinal de nosso compromisso com o reino de
Deus.
A Palavra de Deus denuncia as intenções perversas dos injustos contra
os justos, ensina que a inveja e a rivalidade são causas de obras más e nos convida
a abraçar Cristo no pobre e no pequeno.
A presença do justo
sempre incomoda os perversos e corruptos. Jesus anuncia novamente sua paixão e
convida os discípulos para a humildade e o serviço. A inveja e a rivalidade são
causa de muitos males na comunidade.
Jesus denuncia e pede que
tenhamos cuidado com o poder, com as tentativas de domínio sobre os outros, com
os sonhos de grandeza, com as manobras para conquistar honras, lucros e
privilégios, com a busca desenfreada por títulos e posições de prestígio, pois
são atitudes que revelam uma vida segundo a “palavra
do mundo”.
Jesus nos convida a uma
opção de vida que manifeste o que ele mesmo é, tendo nos deixado como
testamento: um coração simples e humilde, capaz de amar e acolher a todos em
especial os excluídos, sem necessidade de retribuição e reconhecimento público.
Não há meio termo, Jesus
é claro e exigente: quem quiser segui-lo deve acolher sua proposta e
consequentemente seus desafios. Como Igreja devemos estar dispostos a
testemunhar nossa fé por meio de atitudes que manifestem a verdadeira palavra
que é Caminho, Verdade e Vida.
Os “ímpios” descritos
pelo autor da primeira leitura são que, além de não aderirem aos valores de
Deus, ainda zombam dos costumes e dos valores religiosos, por considerarem
essas práticas religiosas inadequadas para os dias de hoje, ou seja, não
compatíveis com a modernidade. Os justos, com sua prática de vida, acabam por
ser uma espécie de empecilho aos ímpios que se sentem continuamente
questionados. Estes reagem, atacando os justos e colocam Deus a prova para ver
até onde ele permite o sofrimento dos que o temem.
O Livro da Sabedoria nos
oferece uma palavra de ânimo, muito oportuna para nossos dias, pois todo justo
será recompensado e sua vida experimentará a plena e definitiva vida que Deus
reserva para aqueles que escutam suas palavras, aceitam seus desafios, trilham
seus caminhos e se comprometem com a construção de um mundo mais fraterno,
lutando pela justiça e pela paz.
Quem optar viver segundo
a “palavra de Deus’” não terá facilidades,
nem viverá em um romantismo mágico pelo qual tudo acabará em alegrias e grandes
realizações. Estará, porém, sujeito a críticas, a perseguições, a
incompreensões e até ao próprio fracasso. Entretanto não serão as situações
contrárias que farão com que desanimemos na prática da justiça.
O texto que nos é
proposto na carta a São Tiago leva o cristão a fazer uma sincera análise sobre
a origem das discórdias que destroem a verdadeira vida das comunidades cristãs.
O autor exorta a comunidade para que não perca os valores cristãos autênticos e
coloque em prática a palavra de Deus, que se encontra, de
maneira privilegiada, em Jesus Cristo, fazendo de suas vidas
um dom de amor aos irmãos, traduzindo em gestos concretos de partilha, serviço,
solidariedade e fraternidade.
Vigiemos para que nosso
coração não esteja ocupado por ambições, invejas, orgulhos, competições,
egoísmos que nada mais criam que divisões e nos impedem de entrar na vida
plena.
Jesus teve dificuldade de
fazer com que entendessem. Ainda hoje podemos ter essa mesma dificuldade. Não
temos tempo para saborear e entender a palavra de Deus, pois nossas
preocupações podem estar sobre outras realidades. Será que não ficamos falando
tantas coisas que não são tão importantes ou fundamentais? Por isso, a dinâmica
de Jesus
é muito importante: sentou-se, chamou mais perto, tomou a criança como
exemplo... Sempre vai educando os discípulos sobre que tipo de messias é e como
quer que sejam os que se dispõem a segui-lo. O evangelho é um contínuo
ensinamento, mas a cegueira dos discípulos persiste. Quem quiser segui-lo deve
dispor-se a servir.
Assim como no tempo de Jesus,
o interesse de saber quem é maior toma conta de muitas rodas de conversas e
orienta as ações de muitas pessoas hoje, determinando as prioridades e os
investimentos. Neste dia, cabe uma pergunta: em que estamos investindo nosso
tempo, nossas energias, nosso dinheiro, enfim, nossa própria vida? Em
realidades passageiras que, aparentemente, podem ser importantes, pois vivemos
em uma sociedade capitalista e imediatista, ou em ações que conscientemente
constroem pessoas, famílias e um mundo que proporcione o prazer de uma vida
integral? Jesus nos convida a abandonarmos nossos sonhos egoístas e
orientarmos nosso agir para a essência de sua proposta.
No Reino de Deus não há
uma escala hierarquizada de pessoas que possam ser umas mais importantes que as
outras, mas há uma proposta de amor que se realiza no próximo. Algo difícil
para nossos dias. O próximo, neste caso, está simbolizado pela criança que é
sinal dos que são os últimos. Assim, a proposta de Cristo deve começar pelos
que são últimos: os sem direitos, os fracos, os pobres, os indefesos, os
facilmente manipulados, tal como eram vistas as crianças em seu tempo. O maior é aquele que ama e serve”.
Pouco tempo antes de sua
páscoa, tive o privilégio de conversar longamente com o Pe. Léo da Canção Nova,
enquanto aguardávamos nosso voo atrasado no aeroporto de Navegantes (SC) com
destino a São Paulo. Havia muita neblina. Entre as tantas coisas profundas que
ouvi do Pe. Léo, lembro a propósito da Palavra de Deus deste domingo, duas:
“Sempre tive muita pena dos pobres.
Depois que fiquei doente e percebi que não era de nada, passei a ter pena dos
ricos. Os pobres, quando chamados à eternidade, não terão praticamente nada a
deixar para trás. Mas coitados dos ricos, que acumulam coisas desnecessárias.
Quando esses forem chamados a deixarem este mundo, terão de deixar tudo que
acumularam para trás. De quantos projetos precisei abrir mão, desde que soube que
tenho pouco tempo de vida. É doloroso demais...” “O cristão autêntico é como um
bambu: vem ventos fortes que o levam ao chão e ele se reergue... vem as chuvas
fortes, e ele se refresca, porque não teme as tempestades... vem os relâmpagos
e ele os absorve e enterra... o bambu, como o cristão, por mais que seja
surrado, nunca desiste de crescer para o alto!”
Não desanimemos jamais. Olhemos para o alto e
façamos dele nosso destino, nosso Fim Último, porque lá está a esperança de
nosso futuro e de nossa felicidade verdadeira!
Sejam todos muito
abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço fiel e amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Sb 2,12.17-20; Sl 53(54); Tg 3,16-4,3 e Mc 9,30-37)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Setembro de
2015, pp. 62-64 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum – Setembro de
2015, pp. 27-31.
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