A Mãe de todas as mães (II)
Por volta de meia-noite, despertaram-me e ordenaram-me que saísse. O Tcheco me esperava do lado de fora. Ele exalava odor de vodka, embora não estivesse bêbado. Fez-me, então, um sinal convidando-me a acompanhá-lo no pátio da escola... "Eu o fiz vir até aqui, capitão, para ajudá-lo e, talvez, para receber a sua ajuda, igualmente, pois o ser humano não deve perecer neste tempo inumano! Sei o que o senhor está a pensar, o senhor acha que sou um cão cínico e o senhor não está de todo errado. No entanto, como posso me expressar sem parecer falso ou covarde?... Segundo o desejo de meus pais, eu deveria ter-me ordenado sacerdote. E hoje, eis que sou um bolchevique, um comunista, um apóstata. Quando saí de casa, minha mãe me colocou uma moeda benta, ao pescoço, representando a Virgem Maria que deveria, segundo ela, me trazer felicidade. Hoje, um sentimento de tristeza se amparou de mim, quando coloquei a sua medalha entre as minhas mãos; tive que lutar contra esta estúpida emoção... Eu ainda possuo aquela lembrança dada pela minha falecida mãe. Ei-la aqui!" O Tcheco tirou do bolso uma moeda antiga, em prata. A efígie do escudo representava a Mãe de Deus, aureolada como Soberana da Boêmia. E ele continuou: "Curioso! Eu sempre gostei de Maria; não tenho nenhum sentimento de rancor contra Ela. Talvez seja porque Ela é a Mãe de todas as mães. O amor de nossas mães deve ser sagrado para nós!" Ao dizer estas palavras, seu rosto expressava um sentimento de dor. Em seguida, acrescentou: "Pelo amor da sua mãe e da minha, tenho vontade de fazer com que o "feitiço" se realize. Quando continuarmos a caminhada, o senhor encontrará um meio para fugir." Em seguida, mudando o tom da voz e a postura e, olhando à sua volta, acrescentou: "Pode ser que eu esteja enganado... Amanhã nós recuaremos diante dos Alemães. Na estrada vamos soar o alarme. Haverá uma certa desordem. O senhor saberá se aproveitar da ocasião, capitão!". Olhei, estarrecido, para o homem e perguntei: "E meus homens?"... Ele, fazendo um sinal irritado, disse: "Tudo vai sair bem! Boa sorte e boa noite!". Indeciso, estendi-lhe a mão. No dia seguinte, os russos batiam em retirada, levando-nos com eles... Repousávamos numa granja abandonada. Subitamente, alguém chamou os guardas. Bela ocasião para fugir. Tomamos, então, a direção do Sul e logo encontramos as nossas tropas. O Tcheco manteve a sua palavra.
Testemunho de um velho oficial da Grande Guerra, segundo R. Demi ! Ein Mutterherz fur allé, pp. 118-121 Referido no Recueil Marial (Florilégio Mariano) 1986 do Frei Albert Plfeger, marista
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