-- Meu Imaculado -- Coração Triunfará: julho 2015

domingo, 26 de julho de 2015

DÉCIMO SÉTIMO DOMINGO DO TEMPO COMUM


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!                                                                    

            Interrompendo a sequência do Evangelho de Marcos, a liturgia nos propõe, nos próximos cinco domingos, o capítulo 6 de João: a multiplicação dos pães e o discurso sobre o Pão da Vida.
          A multiplicação dos pães concentra um simbolismo muito forte, revolucionário, e caracteriza sobremaneira a identidade dos cristãos. Não é apenas uma imagem da Eucaristia, mas revela a intimidade do Reino anunciado e aponta para o banquete messiânico, no final dos tempos, quando todos serão saciados e a morte, vencida.
          Este é o verdadeiro sentido da missão de Jesus, que sente as necessidades do povo e o alimenta com a Palavra e o pão partilhado. O pão é abençoado porque é um presente e alimento de Deus para todos os viventes. Repartir o pão com os pobres significa entrar e viver na dinâmica do Reino. Repartir o pão é participar na comunhão do corpo e sangue do Senhor, entregues para a vida do mundo. É o segredo maior do Reino, por isso nada pode ser perdido, mas recolhido e sempre multiplicado.
          Nossa macro-região de Ribeirão Preto tem um dos lixos mais luxuosos do Brasil. Lixo luxuoso é o alimento manufaturado que sobra nos pratos, nas panelas e é jogado fora. Nos alimentamos mal, comemos demais, depois gastamos com Academias e Regimes Alimentares. A Obesidade, segundo o querido Nutrólogo, Dr. José Eduardo Dutra de Oliveira, é uma questão muito séria, quase que epidêmica em nosso País. Enquanto nos “fartamos”, cerca de um bilhão de pessoas passam fome todos os dias no mundo. Desses, nada menos que 40 milhões são nossos irmãos brasileiros. Não são sempre os mesmos que passam fome. Os que chegam antes aos lixões comem daquilo que jogamos fora.
          O memorial da páscoa do Senhor implica nessa memória da partilha e na profunda solidariedade com todos os que passam fome e são rejeitados e expatriados.
          Celebrar a Eucaristia no contexto da multiplicação dos pães é contestar o sistema de acumulação que domina o mundo e coloca milhões na miséria.
          Jesus saciou pessoas que tinham fome e se revelou o pão da vida eterna, levando em conta a situação concreta e real do dia a dia. O pão, a comida que Ele oferece não é só símbolo do pão sobrenatural. Nos desígnios do Pai, não é possível revelar o pão da vida eterna sem solidarizar-se com as realidades humanas. O amor aos pobres, como o amor aos inimigos, é um teste e um testemunho por excelência da nossa caridade e doação. Reconhecer aos pobres o direito de receber o pão da vida significa engajar-se de corpo e alma nas exigências do amor, e, para o cristão, fazer acontecer uma “nova multiplicação dos pães”.
          Se o povo passa fome não é tanto pela pobreza em si, mas pelo fechamento de quem não se importa com os demais. A partilha marcou profundamente as primeiras comunidades cristãs. Ao partir o pão, descobre-se a presença nova do Ressuscitado!
          A salvação trazida por Jesus atinge nossa vida em todas as suas necessidades, em sua totalidade, e não deixa ninguém com fome. Por isso, a atuação e responsabilidade com as questões sociais, econômicas e políticas são sinais da salvação que Deus quer realizar, hoje, através de nós. Como uma cidade do porte de Ribeirão Preto pode suportar tantos bolsões de miséria, onde crianças passam fome e morrem precocemente por falta de sanidades básicas? Sabemos que para muitos convém continuar “favelados”, porque não faltam os que alimentam suas falsas esperanças de que um dia as coisas haverão de melhorar. Nosso povo precisa ser educado como cidadãos de oportunidades e não de migalhas. Migalhas jogamos às galinhas e não aos nossos pobrezinhos, sem perspectivas de vida mais digna e humana.
          Ao multiplicar os pães, Jesus nos oferece critérios evangélicos fundamentais para vivermos a fraternidade, a partilha e a solidariedade. É repartindo, sendo solidários, que realizaremos o projeto de Jesus, banquetes de fartura e de alegria entre irmãos que se amam. O dinheiro, a terra, os bens ou servem para criar a fraternidade ou acabam dividindo e matando as pessoas.
          Jesus ensina que a dinâmica do Reino é a arte de repartir. Somente o dinheiro do mundo não seria suficiente para comprar alimento necessário para os que estão passando fome... O problema não se soluciona comprando, mas repartindo.
          A dinâmica do mundo capitalista é o dinheiro. A filosofia é que, sem dinheiro, nada se pode fazer. Tudo é convertido em moeda. No mundo capitalista, não há espaço para a gratuidade. Tudo tem seu preço! Esquecemos, contudo, de que a vida nos é dada por pura gratuidade de Deus.
          O capitalismo selvagem sobrevive à custa dos miseráveis. São os pobres que alimentam tal sistema, que joga “migalhas de bolsas daqui e dali: Bolsa Família, Bolsa Escola, Esmolas nos portões de nossas residências e nas portas de nossos templos”! É mais fácil dar esmola e ver-se livre do pobre, largando-o à própria sorte, do que comprometer-se com uma verdadeira compaixão que o promova em sua verdadeira dignidade!
          Jesus nos convida ao banquete eucarístico para nutrir nossa fé e fortalecer-nos no amor mútuo. Ele vê as necessidades do povo faminto e, por nossas mãos, quer lhe proporcionar o sustento na caminhada. A eucaristia questiona a falta de alimento em muitas famílias e nos revela que o pão, bênção de Deus, se multiplica à medida que é partilhado.
          Fruto do trabalho humano e da bênção divina, o pão deve ser partilhado para saciar o povo faminto. A palavra de Deus nos chama a acolher-nos uns aos outros no amor e solidarizar-nos com o necessitado.
          Partilhar os bens da criação é característica fundamental da Igreja. Trabalhar pela unidade de todos é outra característica importante sua. Este é o modo desejado por Jesus: uma sociedade sem famintos.
          Na comunhão, Jesus se oferece a todos indistintamente. Ele é o pão que alimenta aqueles que têm fome de seu amor. Por ele, com ele e nele doamos a vida para que todos tenham dignidade.
          Necessitados de força e de sentido para a vida, participamos da ceia do Senhor onde se realiza entre nós a multiplicação dos pães.
          Jesus, o Pão da Vida sacia nossa fome com a Palavra que nos revela o sentido da vida, sacia nossa fome com a ceia eucarística, sacramento da salvação, sinal e antecipação do banquete sem fim a que somos destinados e convocados.
          Ele nos convida a termos compaixão das multidões famintas. Precisamos abrir as mãos e o coração para a partilha e a solidariedade, a fim de vencermos a fome e a miséria do mundo.
          A Eucaristia é o pão que sacia e plenifica o sonho de paz e fraternidade. É o alimento para conservar a vida. É o pão que nos dá forças para superar as atribuições que existem e atormentam a vida. É segurança de que Deus nos ama e a certeza da ressurreição. É Deus-conosco e no meio dos pobres.
          Não poucas vezes nosso lugar à mesa començal da Eucaristia fica vazio. Faltamos com muita facilidade do grande banquete eucarístico, trocando-o por prazeres perecíveis e que nos enfraquecem interiormente. Quem não se alimenta fica anêmico. A alma do mundo anda anêmica, porque vazia do alimento que a sustenta viva, esperançosa e dinâmica na erradicação da fome espiritual, física, material e moral. Por outro lado: como podemos sentar à mesa e alimentar-nos sabendo de milhões de irmãos nossos passando necessidades básicas? Seja a Eucaristia um alimento que nos robusteça na esperança de que poderemos mudar este quadro caótico de fome e de falta de dignidade! Saiamos de nossas celebrações, como Sacrários, Tabernáculos e Porta-Jóias de Jesus Eucarístico. Só assim seremos capazes de alimentar as demais “fomes” que machucam milhões de irmãos nossos, colocados à margem e, quem sabe aguardando, pelo menos alguma migalha, que lhes sobre de tudo aquilo que de graça recebemos e nem sempre partilhamos.
          Sejam sempre muito abençoados. Com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler 2 Rs 4,42-44; Sl 144(145); Ef 4,1-6 e Jo 6,1-15)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Julho de 2015, pp. 79-81 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Julho de 2015, pp. 67-72.
           


domingo, 19 de julho de 2015

DÉCIMO SEXTO DOMINGO DO TEMPO COMUM


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            Cristo deixou pastores instituídos para continuarem a guiar o seu povo, quer por prados e campinas verdejante, quer por vales tenebrosos. Eles são chaves indispensáveis à vida e à missão da Igreja. A preparação e o cuidado desses pastores se fazem cada dia mais exigente e de responsabilidade de todos.
          Existem tantos pobres e famintos, abandonados e sem carinho. A comunidade eclesial, que celebra o pastoreio de Jesus Cristo, não pode cruzar os braços nem fechar os olhos diante da situação de tantos e tantos sofredores, ovelhas sem pastor.
          Pastor ou Pastora é quem tem responsabilidade pelo bem de outras pessoas. A atitude de Jesus nos lembra de que esta é a forma de ser de Deus, e também deve caracterizar a comunidade cristã.
          No seguimento de Jesus, somos ovelhas e pastores, convocados a viver a “compaixão/sentir com” os pobres, a ser “pastores amorosos” responsáveis pela sorte, pela vida, pela paz, pela felicidade dos irmãos e irmãs.
          Jesus traz a paz a todos sem exceção, porque vem da parte de Deus, e, nele, nós somos filhos de Deus. A divisão entre judeus e pagãos, crentes e não crentes, brancos e negros, homem e mulher ou qualquer outra oposição não pode ser aceita por nós. Não tem lugar na comunidade eclesial. A comunidade é chamada a exercer o pastoreio de Jesus, ajudada e animada pelos pastores convocados e instituídos.
          O convite de Jesus para ir a um lugar tranquilo e descansar um pouco não é detalhe que destoa no Evangelho. Criemos em nossas comunidades espaços para o descanso, o lazer, a convivência prazerosa. A vida cristã não se reduz a preceitos, pecados, orações, devoções, abstinências, jejuns, esmolas... mas proporciona também experiências fraternas na gratuidade, no aconchego, no convívio alegre e fraterno.
          Jesus Cristo é a misericórdia de Deus que nos acompanha ao longo da vida e nos conduz à casa do Pai, para aí habitarmos eternamente.
          Como rebanho, encontramo-nos no regaço de nosso Pastor para refazer as forças e ouvir sua Palavra. A celebração nos afasta da correria da missão e dos afazeres da vida, para permanecermos na intimidade do Senhor, experimentarmos o seu carinho e a sua gratuidade, e prosseguirmos mais animados em nossa caminhada pascal. Somos tocados pelo seu olhar compassivo. Sua presença amorosa se faz sentir na comunidade de irmãos que juntos celebram o sacramento de sua Palavra, que ecoa do meio dos acontecimentos, da homilia, dos cantos e do silêncio. E, num diálogo de aliança e compromisso, respondemos, professando nossa fé e suplicando, desejosos que seu Reino venha logo.
          Mas é no rito eucarístico que vivemos a plena comunhão da aliança com o Senhor. Agradecidos, oferecemos com Ele nossa vida ao Pai que nos brinda com a ceia, sacramento da entrega de seu Filho na cruz.
          Na comunhão de sua aliança, deixamo-nos tomar de compaixão pela multidão faminta, sofrida e desesperançada ao nosso redor. Pela força do Espírito, como bons pastores, assumimos doar nossa vida para que o mundo tenha vida e alegria.
          O coração compassivo de Jesus acolhe a todos os que se aproximam dele e nunca decepciona ninguém. Só Deus não decepciona. Nós nos decepcionamos constantemente, por conta de nossos limites. Mas se deixarmos Jesus assumir nossas fraquezas, Ele nos ajudará a melhorarmos em nossa missão. É preciso configurar-nos com Jesus, o Bom Pastor, vivendo como Ele vive em nossas relações pessoais, comunitárias, eclesiais, políticas e sociais.
          O Senhor é o verdadeiro Pastor que conduz por caminhos retos e cheios de compaixão. As lideranças e toda a comunidade são convidadas a orientar sua prática por Jesus, que faz cessar as divisões e leva todos ao Pai.
          O profeta Jeremias faz severa crítica aos responsáveis pelo povo que não cumprem seu dever.  Aqui são contemplados os ministros ordenados e instituídos, os agentes de pastoral e coordenadores de nossos movimentos eclesiais, bem como nossos políticos.  A compaixão e a ternura de Jesus, pastor messiânico, diferenciam-se nos dos outros pastores. Deus não exclui nenhum povo, ele quer que todos sejam “povo de Deus”. A mesa da eucaristia nos alimenta e restaura nossas forças para sermos bons anunciadores do reino.
          Como bom pastor, Jesus se compadece dos pobres, dos famintos, dos desempregados e abandonados à própria sorte. Solidariza-se com os nossos sofrimentos. Guia-nos, fortalece-nos e defende nossa vida em meio aos reveses e sobressaltos do dia a dia.
          O convite da Palavra deste Domingo para cada um, mergulhado em sua vocação, missão e responsabilidade, é de uma vez por todas configurar-nos com Jesus Cristo, o Bom Pastor! Isso só será possível se nos despirmos de nossa arrogância, prepotência, ganância, de nosso carreirismo, busca de prestígio e poder: o querer ser sempre melhor que os outros. Também precisaremos esforçar-nos para superar entre nós, pastores e ovelhas, a inveja, que nada mais é do que a baba de Caim, a competitividade, o individualismo e a indiferença com nossos semelhantes. Quantas situações conhecemos, em que nos alegramos com os aparentes fracassos de nossos irmãos, até mesmo no ministério? Falamos em fraternidade sacerdotal, porém mal nos cumprimentamos, e quando possível falamos mal de nossos próprios irmãos, escondendo nossos defeitos atrás dos deles. Coisa feia!... É interessante que não confiamos uns nos outros. Antes, corremos uns dos outros, julgamos mal com mais rapidez do que oferecemos nossa ajuda. A falta de fraternidade presbiteral e comunitária; a concorrência entre uma Comunidade e outra, são contratestemunhos que espantam muitos fiéis de nossas Igrejas. Tais situações escandalizam os menos evangelizados e nos garante como prêmio eterno uma pedra de moinho ao pescoço e fundo do mar. Mas nem tudo está perdido. Ainda há tempo de conversão. Eis nossa sorte: Jesus Cristo, o Bom Pastor perdoa sempre. Permite que recomecemos a cada dia novamente. Mas é preciso querer viver a ternura que Jesus vive por cada um que procura esforçar-se para ser configurado com Ele. Oxalá, nossa Igreja passe por uma profunda conversão e seja reconhecida, porque acolhedora viva a verdadeira Teologia Pastoral da Ternura!
          Sejam todos abundantemente abençoados. Com ternura e gratidão, meu abraço sempre amigo e fiel.
          Padre Gilberto Kasper
(Ler Jr 23,1-6; Sl 22(23); Ef 2,13-18 e Mc 6,30-34)

Fontes: Liturgia Diária da Paulus de Junho de 2015, pp. 60-62 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Julho de 2015, pp. 61-66.

domingo, 5 de julho de 2015

DÉCIMO QUARTO DOMINGO DO TEMPO COMUM


COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS

Meus queridos Amigos e Irmãos na Fé!


            A Palavra de Deus do Décimo Quarto Domingo Comum do Tempo Litúrgico de 2015 trata da vocação, do chamado recebido pelos profetas, pelos apóstolos, pelos discípulos e por todos os que se reúnem, para serem enviados na força do Espírito Santo.
          Jesus foi rejeitado porque se apresentou como um trabalhador que cresceu em Nazaré ao lado de parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não descobriram nele nada de extraordinário que o identificasse com o Messias de Deus. Mas o extraordinário está justamente aí: no fato de não ter nada que possa diferir da condição humana comum.
          O Filho de Deus se fez como qualquer um de nós. Muitos afirmam que não creem porque não veem. Os conterrâneos de Jesus não creem justamente porque veem Jesus trabalhador, o filho de Maria, um homem do povo, que não frequentou nenhuma escola superior, um homem que vem de Nazaré, lugarejo insignificante. O escândalo da encarnação continua sendo um espinho atravessado na garganta de muitos cristãos de boa vontade. Isto faz pensar no desafio que é a encarnação do Evangelho na realidade do povo.
          A Palavra de Deus nos faz um apelo: não depositar nossa confiança nos grandes. Também não precisamos ter medo de nossa pequenez e fraqueza. Na trajetória de Jesus, o maior fracasso se transforma em vitória e ressurreição. Junto a Ele, há lugar para os fracos. Em Cristo, somos fortes.
          Jesus fica admirado com a falta de fé das pessoas de sua terra, as quais não acreditam que Deus possa falar através de pessoas simples. A Palavra de Deus se reveste de roupagem humana e vem a nós com o auxílio da história e de pessoas frágeis, enviadas por Ele.
                    A fraqueza humana dos enviados por Deus cria um espaço de liberdade; quem ouve pode decidir a favor ou contra. Às vezes, gostaríamos que Deus se revelasse mediante atos maravilhosos e, assim, evitaríamos o trabalho de discernir quando e por meio de quem Deus se revela.
          Jesus se fez servo e, por isso, entra em choque com os que preferem o privilégio e o poder. A encarnação continua nos questionando e nos empurrando para a missão junto aos marginalizados e enfraquecidos.
          Neste ano de tantas crises econômicas, éticas e morais, é preciso saber distinguir os poderosos que se revestem de aparente humildade para manipular e enganar o povo, em proveito próprio. É muito comum, também entre nós, considerar o poderoso como único capaz de realizar algo pelo povo.
          O Documento de Puebla nos fala do “potencial evangelizador dos pobres”. O que podem nos dizer os pobres, os deficientes de nosso país? Aceitamos a revelação de Deus vinda na fraqueza de nossos irmãos e irmãs, na simplicidade do dia a dia?
          A Palavra de Deus nos convida a renovar nossa adesão a Jesus, consagrando-nos mais generosamente à causa do Reino. Essa nossa profissão de fé nos leva a confirmar que seguimos aquele que foi rejeitado por ser trabalhador, filho de Maria, uma pessoa comum de seu tempo, vindo de uma aldeia e, por isso, motivo de desprezo e rejeição.
          Acima de qualquer expectativa humana, o Senhor manifesta sua grandeza na singeleza do pão e do vinho, frutos da terra e do nosso trabalho. Na simplicidade da partilha. Ele nos confirma no seu caminho. É em nossa fraqueza que Deus continua manifestando sua força.
          Todo ser humano é chamado à Vocação ao Amor! Ela é a primeira vocação e o fundamento de todas as demais, as chamadas Vocações Específicas! O cristão, tendo consciência de sua vocação ao amor, só consegue viver sua Vocação Específica, na medida em que se configura com Jesus Cristo: na sua humildade, no seu espírito de serviço, na sua simplicidade e no seu total desapego de prestígio, poder, ganância, acúmulo de bens e diplomas. Não poucas vezes nossa vontade de queremos ser melhor do que os outros, bem como a acepção e discriminação de pessoas de nossas relações, desfiguram nossa missão de discípulos verdadeiros. Somos convidados a superar a inveja, a busca de prestígio, o “querer aparecer-se diante dos outros”, o “tentar esconder nossos defeitos atrás dos defeitos dos outros”, assumindo com simplicidade nossa história e nossa vida do jeito como ela é. As falsas aparências, aquelas que enganam os outros, são abomináveis ao Reino de Deus que deve ser sempre anunciado com nossa própria vida, mesmo que nem sempre compreendidos, aceitos, reconhecidos por uma sociedade que pensa sustentar sua sobrevivência sobre a hipocrisia. Quantas pessoas conhecemos que tentam comprar o prestígio, pagam preços altos, muitas vezes pisando sobre os mais fracos, para subirem na vida, aparentemente, porque se consideram superiores. Como é feio achar que os outros são feios e nós os bonitinhos! A fome de querer ser melhor nos consome e nos apodrece, enquanto a fome de ser humilde, simples e desapegado de qualquer prepotência, é saciada pelo próprio Cristo, que se dá em alimento vital, a fim de tornar-se o refúgio dos justos!
          Desejando-lhes muitas bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Ez 2,2-5; Sl 122(123); 2Cor 12,7-10 e Mc 6,1-6)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus, de Julho de 2015, pp. 24-26 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Julho de 2015, pp. 50-54).