COMENTANDO A PALAVRA DE DEUS
Meus queridos Amigos e
Irmãos na Fé!
A Palavra
de Deus do Décimo Quarto Domingo Comum do Tempo Litúrgico de 2015 trata da
vocação, do chamado recebido pelos profetas, pelos apóstolos, pelos discípulos
e por todos os que se reúnem, para serem enviados na força do Espírito Santo.
Jesus foi rejeitado
porque se apresentou como um trabalhador que cresceu em Nazaré ao lado de
parentes, amigos e conhecidos. Seus conterrâneos não descobriram nele nada de
extraordinário que o identificasse com o Messias de Deus. Mas o extraordinário
está justamente aí: no fato de não ter nada que possa diferir da condição
humana comum.
O Filho de Deus se fez
como qualquer um de nós. Muitos afirmam que não creem porque não veem. Os
conterrâneos de Jesus não creem justamente porque veem Jesus trabalhador, o
filho de Maria, um homem do povo, que não frequentou nenhuma escola superior,
um homem que vem de Nazaré, lugarejo insignificante. O escândalo da encarnação
continua sendo um espinho atravessado na garganta de muitos cristãos de boa
vontade. Isto faz pensar no desafio que é a encarnação do Evangelho na
realidade do povo.
A Palavra de Deus nos faz
um apelo: não depositar nossa confiança nos grandes. Também não precisamos ter
medo de nossa pequenez e fraqueza. Na trajetória de Jesus, o maior fracasso se
transforma em vitória e ressurreição. Junto a Ele, há lugar para os fracos. Em
Cristo, somos fortes.
Jesus fica admirado com a
falta de fé das pessoas de sua terra, as quais não acreditam que Deus possa
falar através de pessoas simples. A Palavra de Deus se reveste de
roupagem humana e vem a nós com o auxílio da história e de pessoas frágeis,
enviadas por Ele.
A fraqueza
humana dos enviados por Deus cria um espaço de liberdade; quem ouve pode
decidir a favor ou contra. Às vezes, gostaríamos que Deus se revelasse mediante
atos maravilhosos e, assim, evitaríamos o trabalho de discernir quando e por
meio de quem Deus se revela.
Jesus se fez servo e, por
isso, entra em choque com os que preferem o privilégio e o poder. A encarnação
continua nos questionando e nos empurrando para a missão junto aos
marginalizados e enfraquecidos.
Neste ano de tantas
crises econômicas, éticas e morais, é preciso saber distinguir os poderosos que
se revestem de aparente humildade para manipular e enganar o povo, em proveito
próprio. É muito comum, também entre nós, considerar o poderoso como único
capaz de realizar algo pelo povo.
O Documento de Puebla nos
fala do “potencial evangelizador dos
pobres”. O que podem nos dizer os pobres, os deficientes de nosso país?
Aceitamos a revelação de Deus vinda na fraqueza de nossos irmãos e irmãs, na
simplicidade do dia a dia?
A Palavra de Deus nos
convida a renovar nossa adesão a Jesus, consagrando-nos mais generosamente à
causa do Reino. Essa nossa profissão de fé nos leva a confirmar que seguimos
aquele que foi rejeitado por ser trabalhador, filho de Maria, uma pessoa comum
de seu tempo, vindo de uma aldeia e, por isso, motivo de desprezo e rejeição.
Acima de qualquer
expectativa humana, o Senhor manifesta sua grandeza na singeleza do pão e do
vinho, frutos da terra e do nosso trabalho. Na simplicidade da partilha. Ele
nos confirma no seu caminho. É em nossa fraqueza que Deus continua manifestando
sua força.
Todo ser humano é chamado
à Vocação ao Amor! Ela é a primeira
vocação e o fundamento de todas as demais, as chamadas Vocações Específicas! O cristão, tendo consciência de sua vocação
ao amor, só consegue viver sua Vocação
Específica, na medida em que se configura com Jesus Cristo: na sua humildade, no seu espírito de serviço, na
sua simplicidade e no seu total desapego de prestígio, poder, ganância,
acúmulo de bens e diplomas. Não poucas vezes nossa vontade de queremos ser
melhor do que os outros, bem como a acepção e discriminação de pessoas de
nossas relações, desfiguram nossa missão de discípulos verdadeiros. Somos
convidados a superar a inveja, a busca de prestígio, o “querer aparecer-se
diante dos outros”, o “tentar esconder nossos defeitos atrás dos defeitos dos
outros”, assumindo com simplicidade nossa história e nossa vida do jeito como
ela é. As falsas aparências, aquelas que enganam os outros, são abomináveis ao
Reino de Deus que deve ser sempre anunciado com nossa própria vida, mesmo que
nem sempre compreendidos, aceitos, reconhecidos por uma sociedade que pensa
sustentar sua sobrevivência sobre a hipocrisia. Quantas pessoas conhecemos que
tentam comprar o prestígio, pagam preços altos, muitas vezes pisando sobre os
mais fracos, para subirem na vida, aparentemente, porque se consideram
superiores. Como é feio achar que os outros são feios e nós os bonitinhos! A
fome de querer ser melhor nos consome e nos apodrece, enquanto a fome de ser
humilde, simples e desapegado de qualquer prepotência, é saciada pelo próprio
Cristo, que se dá em alimento vital, a fim de tornar-se o refúgio dos justos!
Desejando-lhes muitas
bênçãos, com ternura e gratidão, o abraço amigo,
Padre Gilberto Kasper
(Ler Ez 2,2-5; Sl 122(123); 2Cor 12,7-10 e Mc 6,1-6)
Fontes: Liturgia Diária da Paulus, de Julho de 2015,
pp. 24-26 e Roteiros Homiléticos da CNBB do Tempo Comum de Julho de 2015, pp.
50-54).
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